Leia o texto seguinte.
Ser caritativo quando se pode sê-lo é
um dever, e há, além disso, muitas almas de disposição tão compassiva que, mesmo sem nenhum
outro motivo de vaidade ou interesse pessoal, acham íntimo prazer em espalhar
alegria à sua volta e se podem alegrar com o contentamento dos outros, enquanto
este é obra sua. Eu afirmo porém que, neste caso, uma ação deste tipo, ainda
que seja conforme ao dever, ainda que seja amável, não tem qualquer verdadeiro
valor moral […].
I. Kant,
Fundamentação da Metafísica dos Costumes, Lisboa, Edições 70, 1988, p. 28
(adaptado)
Por que razão Kant afirma
que o tipo de ação descrito no texto anterior não tem valor moral?
2019 1ª fase grupo I
3. Imagine que o Luís
precisa urgentemente de medicamentos e que a única maneira de os conseguir é pedir
dinheiro emprestado a um amigo rico, sem ter a intenção de lho pagar. Neste
caso, o Luís decidiu adotar a máxima «faz promessas enganadoras quando não há
outra forma de resolver os teus problemas pessoais».
Esta máxima pode ser usada
para fazer uma crítica à ética kantiana, dado ser razoável argumentar quea
máxima
(A) não é imoral, ainda que não seja
racional querer universalizá-la.
(B) é imoral, ainda que venha a ter
aprovação dos agentes envolvidos.
(C) não é imoral, embora seja um
imperativo categórico condicional.
(D) é imoral, embora dê prioridade às
consequências da ação.
2012 1ª fase
Leia o texto seguinte.
Texto B
Quando Kant propõe […], enquanto
princípio fundamental da moral, a lei «Age de modo que
a tua regra de conduta possa ser
adotada como lei por todos os seres racionais», reconhece
virtualmente que o interesse coletivo
da humanidade, ou, pelo menos, o interesse indiscriminado da humanidade, tem de
estar na mente do agente quando este determina conscienciosamente a moralidade
do ato. Caso contrário, Kant estaria [a] usar palavras vazias, pois nem sequer
se pode defender plausivelmente que mesmo uma regra de absoluto egoísmo não
poderia ser adotada por todos os seres racionais, isto é, que a natureza das
coisas coloca um obstáculo insuperável à sua adoção. Para dar algum significado
ao princípio de Kant, o sentido a atribuir-lhe tem de ser o de que devemos
moldar a nossa conduta segundo uma regra que todos os seres racionais possam
adotar com benefício para o seu interesse coletivo.
John Stuart
Mill, Utilitarismo, Porto, Porto Editora, 2005
Na resposta a cada um dos
itens de 2.1. a 2.4., selecione a única opção adequada ao sentido do texto.
Escreva,
na folha de respostas, o número do item e a letra que identifica a opção
escolhida.
2.1.
Segundo Stuart Mill, Kant verdadeiramente valoriza
(A)
as circunstâncias da ação.
(B)
o interesse da humanidade.
(C)
o imperativo categórico.
(D)
um imperativo hipotético.
Prova
714.V1/1.ª F. • Página 3/ 8
2.2.
Kant defende que a ação moral é determinada
(A)
pela inclinação e pela boa vontade.
(B)
pelo exemplo e pelo sentimento.
(C)
pela razão e pelo dever.
(D)
pelo bem-estar e pela felicidade.
2.3.
Stuart Mill defende que uma ação tem valor moral
(A)
sempre que o agente renuncia ao prazer.
(B)
quando a intenção do agente é boa.
(C)
sempre que resulta de uma vontade boa.
(D)
quando dela resulta um maior bem comum.
2.4.
Para Kant, a lei «Age de modo que a tua regra de conduta possa ser adotada como
lei por todos os
seres
racionais» significa que
(A)
os seres racionais estão submetidos a leis objetivas.
(B)
as ações morais são avaliadas segundo as leis vigentes.
(C)
as ações morais são avaliadas pelas suas consequências.
(D)
os seres racionais estão submetidos às suas emoções.
2012 2ª fase
Leia
o texto seguinte.
Texto
A
Ficaria eu satisfeito de ver a minha máxima
(de me tirar de apuros por meio de uma promessa não verdadeira) tomar o valor
de lei universal (tanto para mim como para os outros)? E poderia eu dizer a mim
mesmo: – Toda a gente pode fazer uma promessa mentirosa quando se acha numa dificuldade
de que não pode sair de outra maneira? Em breve reconheço que posso em verdade
querer a mentira, mas que não posso querer uma lei universal de mentir; pois,
segundo uma tal lei, não poderia propriamente haver já promessa alguma […]. Por
conseguinte, a minha máxima, uma vez arvorada em lei universal, destruir-se-ia
a si mesma necessariamente.
Immanuel Kant, Fundamentação da
Metafísica dos Costumes, Coimbra, Atlântida, 1960
1.1. Explique, a partir do exemplo do
texto, por que razão o ato de mentir nunca é moralmente permissível, segundo
Kant.
1.2. Compare o papel da intenção do
agente na ética de Kant com o papel da intenção do agente na ética de Stuart
Mill.
2012 época especial
Leia o texto seguinte.
Texto B
O princípio da felicidade pode, sem
dúvida, fornecer máximas, mas nunca aquelas que serviriam de leis da vontade
[…]. Podem certamente dar-se regras gerais, mas nunca regras universais, isto
é, regras que, em média, são corretas na maior parte das vezes, mas não regras
que devem ser sempre e necessariamente válidas […]. Este princípio não
prescreve, pois, a todos os seres racionais as mesmas regras práticas, embora
estejam compreendidas sob um título comum, a saber, o de felicidade.
Kant, Crítica da Razão Prática, Lisboa,
Edições 70, 1989
Na resposta a cada um dos itens de
3.1. a 3.4., selecione a única opção adequada ao sentido do texto. Escreva, na
folha de respostas, o número do item e a letra que identifica a opção
escolhida.
3.1. Segundo Kant, o princípio da
felicidade
(A) prescreve regras universais,
porque todas as pessoas as podem seguir.
(B) é contrário à moral, porque torna
as pessoas egoístas.
(C) é um princípio ético que a todos
impõe a beatitude.
(D) pode fornecer regras, mas não uma
lei moral.
3.2. O texto de Kant refere-se
implicitamente ao imperativo categórico quando menciona
(A) as máximas da ação.
(B) as leis da vontade.
(C) regras em média corretas.
(D) o princípio da felicidade.
3.3. Diferentemente de Kant, Stuart
Mill defende que a ação ética visa
(A) a obtenção do prazer pessoal e a
promoção de interesses individuais.
(B) o prazer em realizar a ação
independentemente dos seus resultados.
(C) a promoção do maior bem comum.
(D) o desejo do agente de ser feliz.
3.4.
3.4 A ética de Stuart Mill pode ser
classificada como
(A) hedonista, porque a felicidade e a
qualidade dos prazeres são o objetivo da vida boa.
(B) hedonista, porque a intensidade e
a duração do prazer são o objetivo da vida boa.
(C) deontológica, porque o critério ético é a
vontade enquanto determinante da ação.
(D) deontológica, porque o critério ético é o
resultado das ações.
Atente
no problema apresentado no caso seguinte.
Circulam
já alguns automóveis autónomos, ou seja, capazes de se conduzirem a si
próprios. As
empresas envolvidas na produção de automóveis autónomos têm feito grandes
progressos, e
os problemas tecnológicos levantados pela exigência de autonomia estão quase
resolvidos. Subsiste,
todavia, um problema ético: os automóveis autónomos podem ser programados para,
em caso de acidente iminente, darem prioridade à segurança dos seus passageiros
ou, em alternativa, darem prioridade à minimização do número total de vítimas.
Qual
das duas programações referidas seria adotada por um defensor da ética de Mill?
Justifique.
2016 1ª fase
Será que, de acordo com a
ética utilitarista de Mill, quando calculamos as consequências dos nossos atos,
temos a obrigação de dar prioridade aos nossos familiares, amigos e vizinhos
mais próximos? Porquê?
Segundo Kant, a máxima de
que devemos diminuir os outros para ver reconhecida a nossa superioridade não
está de acordo com o imperativo categórico, tal como é apresentado na fórmula
da lei universal, porque
(A)
a sua adoção universal anularia o nosso sentimento de igualdade.
(B)
não tem em conta o interesse próprio de todos os agentes.
(C)
a sua adoção por todos os agentes teria consequências negativas.
(D)
não é possível universalizá-la sem que ela se anule a si mesma.
2016 1ª fase
Leia o texto. Que outra
coisa pode ser, pois, a liberdade da vontade senão autonomia, isto é, a
propriedade da vontade de ser lei para si mesma? […] Vontade livre e vontade
submetida a leis morais são uma e a mesma coisa.
I. Kant,
Fundamentação da Metafísica dos Costumes, Lisboa, Edições 70, 1988, p. 94
(adaptado)
Explique por que razão, segundo Kant, «vontade
livre e vontade submetida a leis morais são uma e a mesma coisa».
2014 2ª fase
1. Leia o texto seguinte.
É na verdade conforme ao
dever que o merceeiro não suba os preços ao comprador inexperiente, e, quando o
movimento do negócio é grande, o comerciante esperto também não faz semelhante
coisa, mas mantém um preço fixo geral para toda a gente, de forma que uma
criança pode comprar no seu estabelecimento tão bem como qualquer outra pessoa.
É-se, pois, servido honradamente; mas isso ainda não é bastante para acreditar
que o comerciante assim proceda por dever e por princípios de honradez; o seu
interesse assim o exige […].
I. Kant,
Fundamentação da Metafísica dos Costumes, Lisboa, Edições 70, 1988, p. 27
(adaptado)
1.1.
Distinga, partindo do exemplo dado por Kant, agir por dever de agir em
conformidade com o dever.
1.2.
Explique, de acordo com Kant, a relação entre autonomia e boa vontade.
6.
De acordo com Kant, uma pessoa que, motivada pela obediência a um mandamento da
religião que professa, dá assistência a quem vive numa situação de pobreza
(A)
age, neste caso, apenas por dever.
(B)
age, neste caso, por respeito à lei moral.
(C)
não tem, neste caso, uma vontade autónoma.
(D)
é uma pessoa que, neste caso, se autodetermina.
Leia
o texto seguinte.
O
utilitarismo exige que o agente seja tão estritamente imparcial entre a sua
própria felicidade
e
a dos outros como um espectador desinteressado e benevolente.
J. S. Mill,
Utilitarismo, Lisboa, Gradiva, 2005, pp. 63-64
Há quem critique a
exigência referida no texto por ser excessiva.
Dê um exemplo que ilustre
essa crítica ao utilitarismo. Na sua resposta, comece por explicitar a
exigência referida no texto.
2014 2ª fase
Leia o texto seguinte. É
perfeitamente compatível com o princípio de utilidade reconhecer que alguns
tipos de prazer são mais desejáveis do que outros [...]. É melhor ser um ser
humano insatisfeito do que um porco satisfeito; é melhor ser um Sócrates insatisfeito
do que um tolo satisfeito. E se o tolo ou o porco têm uma opinião diferente, é
porque só conhecem o seu próprio lado da questão. A outra parte da comparação
conhece ambos os lados.
J. S. Mill,
Utilitarismo, Lisboa, Gradiva, 2005, pp. 52-54 (adaptado)
Caracterize, a partir do
texto, a perspetiva de Mill sobre a felicidade.
2018 1ª fase.
3. Segundo a perspetiva utilitarista, a única coisa desejável por si mesma é
(A) a felicidade.
(B) o dever.
(C) a boa vontade.
(D) a justiça.
2018 1ª fase
4. Considere o caso seguinte.
Um agressor apoderou-se de um tanque de guerra e manifestou publicamente a intenção de matar
centenas de pessoas. Fez ainda um refém inocente, que mantém no tanque, usando-o como escudo
humano. Destruir o tanque, matando o agressor e o refém, é a única alternativa capaz de evitar a morte
de centenas de pessoas.
De acordo com a ética de Mill, num caso como o apresentado,
(A) é obrigatório abstermo-nos de agir.
(B) é permissível abstermo-nos de agir.
(C) é obrigatório destruirmos o tanque.
(D) é proibido sacrificarmos inocentes.
Leia
o texto seguinte.
Não
existe sistema moral algum no qual não ocorram casos inequívocos de obrigações
em
conflito.
Estas são as verdadeiras dificuldades, os momentos intrincados na teoria ética
e na
orientação
conscienciosa da conduta pessoal. São ultrapassados, na prática, com maior ou
menor
sucesso, segundo o intelecto e a virtude dos indivíduos; mas dificilmente pode
alegar-
-se
que alguém está menos qualificado para lidar com eles por possuir um padrão
último para
o
qual podem ser remetidos os direitos e os deveres em conflito. Se a utilidade é
a fonte última das obrigações morais, pode ser invocada para decidir entre elas
quando as suas exigências são incompatíveis. Embora a aplicação do padrão possa
ser difícil, é melhor do que não ter padrão algum […].
S. Mill, Utilitarismo, Lisboa,
Gradiva, 2005 (adaptado)
1.
Stuart Mill afirma que «a utilidade é a fonte última das obrigações morais»
(linhas 6 e 7).
Esclareça
o conceito de «utilidade», integrando-o na ética de Stuart Mill.
2.
Atente na primeira afirmação do texto de Stuart Mill: «Não existe sistema moral
algum no qual não ocorram casos inequívocos de obrigações em conflito.» (linhas
1 e 2).
Confronte
as perspetivas de Kant e de Stuart Mill acerca da forma de resolver conflitos
de obrigações.
Na
sua resposta, recorra a um exemplo de conflito de obrigações.
2015 1ª fase
1. Haverá alguma
circunstância em que seja moralmente aceitável matar uma pessoa inocente, sem o
seu consentimento, para salvar a vida de outras cinco pessoas?
Apresente
as respostas que Kant e que Mill dariam à questão anterior, comparando-as.
2015
2ª fase
A
maximização da utilidade, defendida por Mill, obriga a
(A)
considerar imparcialmente o bem de cada pessoa.
(B)
dar prioridade às pessoas que nos são mais próximas.
(C)
satisfazer apenas o nosso interesse próprio racional.
(D)
valorizar mais a comunidade do que o indivíduo.
2015
2ª fase
A
perspetiva ética de Mill enfrenta a objeção seguinte.
(A)
A felicidade não pode ser uma questão meramente quantitativa.
(B)
É errado não dar prioridade aos interesses da maioria das pessoas.
(C)
Temos de ser responsáveis pelas consequências do que fazemos.
(D)
Dar sempre prioridade à felicidade geral é demasiado exigente.
20191ª fase Grupo I
4. De acordo com Mill,
(A)
os prazeres físicos e sensuais nem sempre são inferiores.
(B)
apenas os animais têm prazeres inferiores.
(C)
devemos renunciar aos prazeres inferiores para não nos rebaixarmos à condição
animal.
(D)
são superiores os prazeres preferidos por quem tem competência para os
apreciar.
2015
2ª fase
«Não
mintas se queres que acreditem em ti quando dizes a verdade.»
O
imperativo anterior é hipotético ou categórico?
Justifique
a sua resposta, distinguindo os dois tipos de imperativo.
2014 1ª fase
Leia o texto seguinte. O
valor moral da ação não reside, portanto, no efeito que dela se espera […].
Nada senão a representação da lei em si mesma, que em verdade só no ser
racional se realiza, enquanto é ela, e não o esperado efeito, que determina a
vontade, pode constituir o bem excelente a que chamamos moral, o qual se
encontra já presente na própria pessoa que age segundo esta lei, mas não se
deve esperar somente do efeito da ação.
I. Kant, Fundamentação da Metafísica dos
Costumes, Lisboa, Edições 70, 1988, pp. 31-32 (adaptado)
Compare, a partir do
texto, a perspetiva de Kant com a de Mill relativamente àquilo que determina o
valor moral da ação.
2013
1ª fase
Leia
o texto seguinte.
Ora
todos os imperativos ordenam ou hipotética ou categoricamente. Os hipotéticos
representam
a necessidade prática de uma ação possível como meio de alcançar qualquer
outra
coisa que se quer (ou que é possível que se queira). O imperativo categórico
seria
aquele
que nos representasse uma ação como objetivamente necessária por si mesma, sem
relação
com qualquer outra finalidade. […] No caso de a ação ser apenas boa como meio
para qualquer outra coisa, o imperativo é hipotético; se a ação é representada
como boa em si, por conseguinte, como necessária numa vontade em si conforme à
razão, como princípio dessa vontade, então o imperativo é categórico.
I. Kant, Fundamentação da
Metafísica dos Costumes, Lisboa, Edições 70, 2011
1.
A partir do texto, mostre por que razão, para Kant, a ação com valor moral se
fundamenta no imperativo categórico e não em imperativos hipotéticos.
Na
sua resposta, integre, de forma pertinente, informação do texto.
2.
Será que há deveres morais absolutos?
Compare
as respostas de Kant e de Stuart Mill a esta questão.
2018 1ª fase.
1. Leia o texto seguinte.
Uma pessoa, por uma série de desgraças, chegou ao desespero [...]. A sua máxima
[…] é a seguinte: Por amor de mim mesmo, admito como princípio que, se a vida,
prolongando-se, me ameaça mais com desgraças do que me promete alegrias, devo
encurtá-la. [...] Vê-se então [...] que uma natureza cuja lei fosse destruir a
vida em virtude do mesmo sentimento cujo objetivo é suscitar a sua conservação
se contradiria a si mesma.
I. Kant,
Fundamentação da Metafísica dos Costumes, Lisboa, Edições 70, 1986, p. 63.
1.1. Explique como Kant,
recorrendo à fórmula da lei universal do imperativo categórico, condena o
suicídio.
1.2. Segundo Kant, uma
pessoa que, nas circunstâncias descritas no texto, optasse pelo suicídio agiria
de modo autónomo ou heterónomo? Justifique a sua resposta.
2018, 2F, V1
6. De acordo com a ética
de Kant, temos a obrigação de respeitar os princípios seguintes: – Nunca se
deve violar contratos. – Nunca se deve quebrar promessas. Suponha que alguém
prometeu fazer algo, não se apercebendo de que isso implicava violar um
contrato. Que problema levantaria este caso à ética de Kant?
(A) O primeiro princípio deverá ser
desrespeitado, pois tem menos força do que o segundo.
(B) O segundo princípio deverá ser
desrespeitado, pois tem menos força do que o primeiro.
(C) Os dois princípios deixam de ter
importância moral, pois mostram não ser universalizáveis.
(D) O conflito de
princípios é irresolúvel, pois ambos constituem proibições absolutas.
2018, F2
1. Leia os dois textos
seguintes, um de Kant e outro de Mill. Aquele que diz uma mentira, por muito
bem-intencionado que possa ser, tem de ser responsável pelas suas consequências
[…], ainda que estas possam ter sido imprevisíveis; pois a veracidade é um
dever que tem de ser entendido como a base de todos os deveres decorrentes de
um contrato, cuja lei se torna incerta e inútil caso se admita a menor exceção.
Por conseguinte, ser verídico (honesto) em todas as declarações é um mandamento
sagrado da razão […].
I. Kant, «Sobre um Suposto Direito de Mentir por
Amor à Humanidade», in A Paz Perpétua e Outros Opúsculos, Lisboa, Edições 70,
1989, pp. 175-176 (texto adaptado).
Todos os moralistas
reconhecem que mesmo a regra de dizer a verdade, sagrada como é, admite a
possibilidade de exceções, verificando-se a principal quando ocultar um facto
(por exemplo, ocultar informação a um malfeitor ou más notícias a uma pessoa
muito doente) iria salvar uma pessoa (especialmente uma pessoa que não nós
próprios) de um mal maior e imerecido, e quando só é possível realizar a
ocultação negando a verdade.
J. S. Mill, Utilitarismo,
Porto, Porto Editora, 2005, p. 63 (texto adaptado).
Confronte as posições de
Kant e de Mill, expressas nos textos anteriores, acerca da regra de dizer a
verdade. Na sua resposta, integre adequadamente a informação dos textos.
2019 1ª fase Grupo V
Entretanto, ela soube que
o voluntariado era muito valorizado nas entrevistas de emprego. Por essa razão,
decidiu contactar uma conhecida associação de apoio a crianças doentes e
conseguiu ser admitida, passando a conciliar o trabalho de voluntariado com os
estudos. Pela sua dedicação e pela sua simpatia, a Maria destacou-se desde o
primeiro momento como uma das voluntárias favoritas das crianças e das famílias.
O apoio dado pela Maria às
crianças doentes e às suas famílias tem valor moral?
Na sua resposta, deve:
‒ clarificar o problema filosófico
inerente à questão formulada;
‒ apresentar inequivocamente a sua
posição;
‒ argumentar a favor da sua posição.
Leia o Texto 1 e
considere-o nas suas respostas aos itens 11 e 12.
Texto 1
Temos a obrigação de
ajudar alguém que seja pobre; mas, como o favor que fazemos implica que o
seu bem-estar depende
da nossa generosidade,
e isso humilha
a pessoa, é
nosso dever comportarmo-nos como
se a nossa
ajuda fosse [...]
meramente o que
lhe é devido
[...], permitindo-lhe manter o
seu respeito por si própria [...], de modo a não diminuir o valor dessa pessoa
enquanto ser humano [...].
Kant, A Metafísica dos
Costumes, Lisboa, FCG, 2017, pp. 390-392. (Texto adaptado)
11. É possível inferir do
Texto 1 que há atos de caridade que podem ser moralmente censuráveis. Concorda que
há atos de
caridade que podem
ser moralmente censuráveis?
Justifique a sua perspetiva.
12. No Texto 1, Kant
começa por afirmar que «temos a obrigação de ajudar alguém que seja pobre».
Essa afirmação exprime um juízo de valor? Justifique a sua resposta.
Correção: Correção:
http://iave.pt/images/arquivo_de_provas/2020/714/EX-Fil714-F2-2020-CC-VD_net.pdf
13. Considere o caso
seguinte.
Num país, metade das
pessoas tem um rendimento mensal de 6000 €, que lhes permite adquirir bens
que elas próprias
consideram dispensáveis, e
a outra metade
tem um rendimento mensal de 600 €, que dificilmente
chega para satisfazer as suas necessidades básicas. Foram
apresentadas duas propostas
ao governo: na
primeira, propõe-se que o rendimento
disponível seja redistribuído, transferindo
200 € das
pessoas que têm
um rendimento mensal
de 6000 €
para as que
têm um rendimento
mensal de 600
€; na segunda, propõe-se que não se faça qualquer
redistribuição.
Um utilitarista tenderia a
apoiar a primeira proposta. Porquê?
Correção: Correção:
http://iave.pt/images/arquivo_de_provas/2020/714/EX-Fil714-F2-2020-CC-VD_net.pdf
2021, 1ª fase, V1
5. Mill considera que a
avaliação moral das ações deve ser feita
(A) em função da felicidade dos
outros.
(B) de acordo com os motivos do
agente.
(C) em função da felicidade do agente.
(D) de acordo com as suas
consequências.
https://www.examesnacionais.com.pt/exames-nacionais/11ano/2021-1fase/Filosofia-Criterios.pdf
2021, 1ª fase, V1
17. Será que uma ação só é
moralmente boa se for motivada pelo dever?
Na sua resposta, deve:
− clarificar o problema filosófico
inerente à questão formulada;
− apresentar inequivocamente a sua
posição;
− argumentar a favor da sua posição,
mobilizando conceitos ou teorias relevantes;
− apresentar pelo menos um exemplo que
ilustre a posição defendida.
https://www.examesnacionais.com.pt/exames-nacionais/11ano/2021-1fase/Filosofia-Criterios.pdf
20-21 2ª fase V1
12. Leia o texto seguinte.
[Uma ação motivada apenas pela compaixão], por conforme ao dever que ela seja, não tem
contudo nenhum verdadeiro valor moral, pois à sua máxima falta o conteúdo moral que manda
que tais ações se pratiquem, não por inclinação, mas por dever.
I. Kant, Fundamentação da Metafísica dos Costumes, Lisboa, Edições 70, 1988,
pp. 28-29. (Texto adaptado)
12.1. Apresente um exemplo de uma ação motivada por uma inclinação e que não seja contrária ao
dever.
Explique a sua escolha.
12.2. Kant afirma que uma ação motivada apenas pela compaixão não tem nenhum verdadeiro valor
moral. Concorda com esta tese de Kant? Justifique.
Na sua resposta,
−− apresente inequivocamente a sua posição;
−− argumente a favor da sua posição.
Critérios: https://iave.pt/wp-content/uploads/2021/09/EX-Fil714-F2-2021-CC-VT_net.pdf
2022, 1ª fase
– Diz-me tu mesmo
francamente, desafio-te… responde-me: imagina que és tu que constróis o
edifício do destino da humanidade, para no final fazer as pessoas felizes,
dar-lhes enfim a paz e o sossego, mas para isso é necessário e inevitável
torturar apenas uma criaturinha pequenina, por exemplo, aquela criança, [...] e
assentar esse edifício nas suas lágrimas não vingadas: concordarias em ser o
arquiteto nessas condições? Diz-me, e não mintas! – Não, não concordaria –
disse Aliocha em voz baixa. – E podes admitir a ideia de que as pessoas para
quem constróis esse edifício concordassem em aceitar a sua felicidade à custa
do sangue injustificado de um pequeno mártir, e aceitando-a vivessem felizes
para sempre? – Não, não posso admitir.
F. Dostoievski, Os Irmãos Karamázov, Lisboa,
Relógio D'Água Editores, 2012, p. 251.
13.1. Identifique a teoria
moral que está a ser rejeitada por Aliocha. Justifique a identificação feita.
13.2. Aliocha rejeita a
maneira descrita de se alcançar a felicidade. Que justificação moral poderia
Aliocha dar para essa rejeição?
2.ª fase 2022
11. Considere os dois imperativos seguintes.
1. Não viole os contratos se quer fazer bons
negócios.
2. Não viole os contratos.
Identifique o imperativo, 1. ou 2., que, de
acordo com Kant, é moral, explicitando a característica que o
distingue daquele que não é moral.
Prova 714.V1/2.ª F. • Página 5/ 7
Critérios: Filosofia-Criterios.pdf (examesnacionais.com.pt)
2ª fase 2022
12. Leia o texto seguinte.
As emoções e os
sentimentos podem provocar distúrbios destrutivos nos processos de raciocínio
em determinadas circunstâncias. [...] [Mas] a ausência de emoções não deixa de poder
comprometer a racionalidade que nos torna distintamente humanos e nos permite
decidir em conformidade com um sentido de futuro pessoal, convenção social e
princípio moral. […] Emoção, sentimento e regulação biológica desempenham um
papel na razão humana. […] O facto de agir de acordo com um dado princípio
ético requerer a participação de circuitos [neurológicos] modestos no cerne do
cérebro não empobrece esse princípio ético. O edifício da ética não desaba, a
moralidade não está ameaçada.
A. Damásio,
O Erro de Descartes – Emoção, Razão e Cérebro Humano, Mem Martins,
Publicações
Europa-América, 1985, pp. 14-15. (Texto adaptado)
Argumente contra a ética de Kant a partir da
informação do texto anterior.
------------------------------------
2023, 2ª fase
11. Considere o texto seguinte.
O conceito do dever em toda a sua pureza é […] incomparavelmente mais simples, mais
claro e, no uso prático, mais compreensível e mais natural, para quem quer que seja, do que
todo o motivo procedente da felicidade […].
A vontade que se orienta pela máxima da felicidade oscila entre os seus motivos quanto ao
que deve decidir; com efeito, olha para o resultado, e este é muito incerto; é preciso ter uma boa
cabeça para se desenvencilhar do emaranhado de razões e contrarrazões e não se enganar na
ponderação. Pelo contrário, se se interroga sobre qual é o seu dever, […] sabe logo o que tem
de fazer. I. Kant, A Paz Perpétua e Outros Opúsculos, Lisboa, Edições 70, 1990, pp. 70-71.
11.1. Explique a objeção kantiana, presente no texto, à adoção da máxima da felicidade.
Na sua resposta, integre informação do texto.
11.2. Concorda com a perspetiva de Kant expressa no texto?
Na sua resposta, deve:
− apresentar inequivocamente a sua posição acerca da perspetiva de Kant expressa no texto;
− argumentar a favor da sua posição, recorrendo a um exemplo.
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Considere o texto seguinte.
A piedade é um sentimento natural […]. É ela que nos leva a socorrer, sem pensar duas
vezes, as pessoas que vemos em sofrimento […]. É ela que, no lugar da máxima […] Faz
aos outros o que gostarias que te fizessem a ti, inspira a todos os seres humanos esta outra
máxima de bondade natural, bem menos perfeita, mas talvez mais útil do que a anterior: Faz o
que é bom para ti provocando o menor mal possível a outrem. É, em suma, neste sentimento
natural, mais do que em argumentos subtis, que é preciso procurar a causa da repugnância
que qualquer ser humano sentiria ao praticar o mal, independentemente das máximas que lhe
moldaram a educação.
J.-J. Rousseau, Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre
os Homens, Lisboa, Penguin, 2021, pp. 54-55. (Texto adaptado)
O autor do texto defende que a máxima de que cada um deve fazer o que é bom para si provocando o
menor mal possível a outrem não é afetada por variações pessoais nem culturais.
Como é que o autor justifica a sua posição?
Critérios:https://www.examesnacionais.com.pt/exames-nacionais/11ano/2023-2fase/Filosofia-Criterios.pdf
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A justiça é um nome para certas exigências morais que, consideradas coletivamente, ocupam
um lugar mais elevado na escala da utilidade […] do que quaisquer outras, ainda que possam
ocorrer casos particulares em que outro dever social é tão importante que passa por cima
das máximas gerais da justiça. Assim, para salvar uma vida, pode não só ser admissível, mas
constituir mesmo um dever, roubar ou tirar à força a comida ou os medicamentos necessários, ou
raptar e forçar a trabalhar o único médico qualificado. Nesses casos, […] dizemos geralmente,
não que a justiça tem de dar lugar a outro princípio moral, mas que, devido a esse outro princípio,
aquilo que é justo nos casos comuns não é justo neste caso particular.
J. S. Mill, Utilitarismo, Porto, Porto Editora, 2005, p. 104.
14.1.
Explicite as razões que, de acordo com o texto, justificam que um ato habitualmente tido por injusto
possa «não só ser admissível, mas constituir mesmo um dever».
Na sua resposta, integre informação do texto.
Critérios: https://www.examesnacionais.com.pt/exames-nacionais/11ano/2023-2fase/Filosofia-Criterios.pdf
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14.2. Concorda com a ideia segundo a qual um ato habitualmente tido por injusto possa «não só ser
admissível, mas constituir mesmo um dever»?
Na sua resposta, deve:
− apresentar inequivocamente a sua posição;
− argumentar a favor da sua posição.
Critérios: https://www.examesnacionais.com.pt/exames-nacionais/11ano/2023-2fase/Filosofia-Criterios.pdf
2023-2024 1.ª fase
11. A imparcialidade é uma exigência do princípio da utilidade defendido por Mill.
Caracterize a imparcialidade exigida pelo princípio da utilidade.
Na sua resposta, comece por apresentar o princípio da utilidade.
12. Kant defende que é possível fazermos o bem e, mesmo assim, as nossas ações não terem valor moral.
Concorda com a perspetiva de Kant acerca do valor moral das ações?
Na sua resposta, deve:
− apresentar inequivocamente a sua posição;
− argumentar a favor da sua posição.
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