quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

O problema do Livre Arbítrio


 Determinismo:

Tudo o que fazemos é causado por forças que não controlamos.
Se as nossas forças são causadas por forças que não controlamos, então não agimos livremente.
Logo, nunca agimos livremente.
Dizer que um sistema é determinista é afirmar que tudo o que nele acontece resulta de causas anteriores, e que, logo que as causas ocorram, os efeitos têm de se seguir inevitavelmente, dadas as circunstâncias circundantes a as leis da natureza[1]. Então, sempre que encontremos a mesma causa, encontraremos o mesmo efeito. Isto é, sempre que as mesmas circunstâncias ocorrerem, serão produzidos os mesmos efeitos, tornando previsíveis os acontecimentos. O determinismo não constata simplesmente a presença de causas, afirma que essas causas, sempre que ocorram nas mesmas circunstâncias, produzirão os mesmos efeitos. Daí que se negue a presença de deliberação livre da vontade no que respeita ao ser humano.

Exemplos:
- O ciclo da água;
- Os sismos;
- Os vulcões;
Se ocorrerem determinadas circunstâncias, então os efeitos decorrem inevitavelmente de certas causas. Sempre que um anticiclone estaciona nos Açores o tempo em Portugal é influenciado. O efeito desse anticiclone é sempre idêntico.

Há dias em que temos saudades do anticiclone dos Açores.
E o ser humano? É possível vislumbrar-lhe características determinísticas?

Os acontecimentos neurológicos.
Os estados conscientes são causados por acontecimentos neurológicos. Realizam-se por vezes cirurgias cerebrais apenas com anestesia local, o que permite ao paciente estar consciente e descrever o que lhe vai acontecendo à medida que se vai fazendo estimulação das partes do cérebro.
Assim, descobriu-se que, estimulando várias regiões do cérebro, conseguia-se causar todos os tipos de movimentos corporais, franzir as sobrancelhas, fechar o olho, etc… Até aqui compreende-se que tal possa ser possível. Mas o mais curioso foi constatar que os animais que tinham sido sujeitos a estas estimulações, não ficaram surpreendidos com os movimentos, não revelando qualquer medo.
Do mesmo modo, estimulando um cérebro humano e sem que o paciente soubesse, foi produzido um movimento da cabeça e do tronco bem orientado e aparentemente normal. Repetiu-se várias vezes esta estimulação o que revelou uma coisa ainda mais curiosa: o paciente conseguia explicar os movimentos, dizendo que andava à procura dos chinelos ou que tinha ouvido barulho. Um mero reflexo causado por factores externos ao cérebro promoveu uma consciência.
Estamos perante exemplos muito fortes de defesa do determinismo e a consequente negação do livre arbítrio.

A Sociedade e a cultura
No princípio do século vinte, com a crescente importância de um novo ramo do conhecimento – Psicologia - assistiu-se à promoção de teorias que professavam a influência fundamental do meio para o desenvolvimento do indivíduo. O Behaviorismo[2] culminou com teses que sustentavam que a educação determinava o desenvolvimento. Seria possível, ao produzir ambientes favoráveis, direccionarmos o desenvolvimento da criança para aquilo que desejaríamos. Neste sentido, o determinismo social mostrava que há uma relação causa-efeito entre a circunstância onde se vive e aquilo que se é. Eu sou a minha circunstância.
Há factos que sustentam esta tese. Estatisticamente, as pessoas oriundas de meios economicamente desfavorecidos têm mais probabilidade de ter insucesso escolar. Outro exemplo pode ser encontrado no aumento considerável de suicídios junto de jovens quando os meios de comunicação dão notícia deste tipo de ocorrências.

Factores genéticos.
Também os factores genéticos parecem ter um peso significativo nas decisões, escolhas e apetências. Certos estudos mostram a grande proximidade comportamental entre gémeos monozigóticos educados em ambientes diferenciados. É conhecido o caso dos gémeos Jack Yufe e Oskar Stohr. Um deles foi criado em Trindade pelo seu pai; o outro pela sua avó na Alemanha. Apesar disso, quando voltaram a encontrar-se, ambos usavam óculos com armações rectangulares e camisa com dois bolsos e dragonas. Ambos tinham um pequeno bigode. Ambos gostavam de ler revistas de trás para a frente, além de outras semelhanças desconcertantes.

O argumento determinista é, então, o seguinte:
Se as nossas acções são causadas por forças que não controlamos (no sentido de não depender de nós que algo aconteça, mas sim das circunstâncias que inevitavelmente produzirão certos efeitos), não agimos livremente.
Tudo o que fazemos é causado por forças que não controlamos.
Então não agimos livremente.

Logo, nunca agimos livremente.




[1] James Rachel, Problemas da Filosofia, Gradiva.

Falácias Informais

http://livrepensamento.com/guia-de-falacias-logicas/falacias-de-distracao/apelo-a-ignorancia/

Apelo à Ignorância

Esta falácia ocorre quando se considera verdadeiro o que não se provou ser falso. Ou quando se considera falso o que ainda não se provou ser verdadeiro. Impõe-se limitações do nosso conhecimento à realidade.

Por exemplo: Ninguém provou que Deus não existe. Logo, Deus  existe.

Pelo facto de não se provar que Deus não existe, não segue que Deus efetivamente não existe. Da mesma forma, caso não se prove que os gambozinos não existem, não se infere que não existam. A resposta deveria ser dada assegurando que a ausência de prova é circunstancial não implicando a sua total refutação. Do mesma modo, quando afirmamos que algo não é falso por ausência de prova em contrário não será conveniente, essencialmente por uma questão de honestidade intelectual, afirmar que é automaticamente verdadeiro. Podemos, isso sim, afirmar que neste momento determinada conjetura é verosimilhante, podendo não o ser no futuro.

Encontramos com mais pertinência esta falácia quando atribuímos a determinada ocorrência uma espécie de milagre pelo facto de não haver de imediato uma prova empírica. Pela ausência de prova ou de justificação, consideramos que algo acontece em virtude de um qualquer fenómeno milagroso.

"A falta de prova não é uma prova."
conhecimento à realidade.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Argumentação e Filosofia

Filosofia, retórica e democracia


Desde cedo que nos interessamos sobre a origem da civilização ocidental. É nela que vivemos, é nela que depositamos os nossos projectos. Ao contrário da intenção de Karl Popper, não pretendemos discutir se a nossa civilização é a melhor ou a pior relativamente a outras. Simplesmente vamos procurar a sua génese e, consequentemente, vamos conhecer melhor aquilo que somos.
            Ao longo da história humana foram muitas as civilizações que despontaram, contribuindo para o devir (evolução, desenvolvimento...) do mundo. Umas mais violentas, outras mais pacíficas, mas todas marcaram indelevelmente a marcha da história. Um dos pontos mais marcantes aconteceu por volta do séc. VII AC. Numa região de clima ameno influenciado pelas marés calmas e cálidas do mediterrâneo oriental, emergiu um povo que se dedicou a pensar, ou melhor, colocou como prioridade da sua efémera existência o pensamento, além de outras actividades, nomeadamente físicas, como demonstra o interesse pelas olimpíadas.
            Os gregos eram um povo culto. Promoviam inúmeras actividades culturais, entre as quais se encontrava a Tragédia Grega. Forma teatral por excelência, a Tragédia Grega decorria em grandes anfiteatros (do género daquele da Lourinhã junto ao edifício da Câmara). Aí eram protagonizadas grandes sessões teatrais de autores tão célebres como Sófocles ou Eurípedes (para ver as características da Tragédia Grega ler Nietzsche, A Origem da Tragédia ou Aristóteles em Poética). Estes autores escreviam grandes textos que ainda hoje merecem a nossa maior atenção, nomeadamente no que respeita às grandes descrições míticas. Foi aí que tudo começou!
            O mito sempre acompanhou a vida do homem. Perante fenómenos que não possuíam explicação e que ultrapassavam o seu domínio, o homem criou um conjunto de teorias, mais ou menos sistemáticas, com uma certa coerência, mas dominado por explicações fantásticas. Estas formas mitológicas eram formadas por duas modalidades fundamentais: as Cosmogonias e as Teogonias. Ambas as posições incluem narrativas de génese que descrevem o aparecimento de um mundo ordenado e baseiam-se em mitos de soberania que exaltam o poder de um deus reinante no universo. Mais especificamente, as Teogonias revelam a luta divina pela soberania e as Cosmogonias elegem a Arché, a origem do cosmos, personificada pela força das antigas divindades, como assunto fundamental.

            Só que... apareceram uns sábios, pelo menos eram assim considerados, que disseram umas coisas diferentes: O princípio de todas as coisas é a água, como advogou Tales. Que significa esta viragem? Quais as diferenças entre esta nova perspectiva e o mito?
            Podemos dizer que, pela primeira vez, investigou-se a natureza a partir de um prisma desinteressado: já não são as influências míticas a condicionar o pensamento humano. A razão (Logos) tornou-se o princípio fundamental de toda a investigação. Em segundo lugar a frase acima transcrita mostra-nos a busca da unidade, do princípio fundamental, a busca de uma realidade que transcende (ultrapassa) o quotidiano: eis-nos no reino da Metafísica (relembrar a árvore de Descartes). Estes aspectos inovadores da filosofia demonstram bem a sua própria especificidade: a radicalidade. Tal como todo o desporto (a filosofia também pode ser um desporto, pelo menos mental) radical, a filosofia ultrapassa os limites, vai até à raiz da realidade (ver a diferença entre as questões filosóficas e outros tipos de questões.) e abrange todos os domínios dessa mesma realidade.

            Porém, o seu único método é a reflexão, devidamente enquadrada com o rigor e a independência que ela merece. Daqui deriva outra importante especificidade da filosofia: a autonomia. Quando falamos em autonomia estamos a designar o acto livre. A liberdade (como já foi devidamente salientado nas aulas) identifica-se com a reflexão e, acima de tudo, com a crítica, exercendo um exame rigoroso sobre os assuntos com que nos deparamos. Sendo assim, a dúvida é um momento importante da actividade filosófica (tal como foi protagonizado por Descartes) e decorre necessariamente da admiração que o mundo nos merece e do espanto que ele nos suscita. Estavam assim criadas as condições para o surgimento da argumentação e da retórica.

A Polis e a democracia

 Todo o ambiente existente proporcionava a livre discussão e o debate do público sobre os assuntos da Polis. A democracia, enquanto sistema político, nasceu em Atenas e com ela a formação da opinião pública. Democracia significa mesmo isso: o poder do povo. Um conjunto de cidadãos considerados livres, onde se excluíam as mulheres e os escravos, reunia-se naquilo que se designava Ekklesia para decidirem os destinos públicos. Daqui decorreu a necessidade dos cidadãos estarem convenientemente preparados para a dialéctica discursiva, proporcionando-se um papel cada vez mais importante da retórica. Começou a desenhar-se os contornos de um progresso argumentativo, onde a palavra, primeiramente falada e depois escrita, definia o perímetro do ser, da realidade.


O sofistas e a filosofia socrática

Entre meados do século V e IV a.c.
  • Sofistas
Pressupostos da filosofia sofista:
1.Método: empírico-indutivo.
A base da filosofia sofista consiste na experiência e, a partir dela, criar uma tese geral. Esta atitude de investigar através da experiência designa-se de empirismo e a lógica de transitar do particular para o geral designa-se de indução.
2.Ideia geral:
«O Homem é a medida de todas as coisas» (Protágoras)
Interpretação desta frase:
- A realidade está submetida à análise e simplificação do homem. A verdade é relativa ao Homem. Relativa ao homem em geral ou a cada circunstância humana?
- Em virtude da itinerância dos sofistas, descobriu-se que a justiça, os sistemas de convivência, a forma como se aborda a realidade, são diferentes em diferentes estados ou povos. O que concluíram? A verdade é convencional. Portanto, a verdade corresponde à conveniência circunstancial dos discursos.
Consequências para a filosofia:
   1. Não há verdades absolutas.Por isso, a verdade passa pela persuasão.
2.Não existem soluções únicas para os problemas.
3.As leis dos estados não são verdadeiras nem falsas, mas úteis ou convenientes.
4.A verdade e falsidade foram substituídas pela sensatez e insensatez.

-          O homem é palavra e a palavra é do homem;
-          O mundo é linguagem;
-          Educadores itinerantes da arte de bem falar aplicada à política;
-          Visavam a eficácia retórica na política e no direito;
-          Salientaram a relatividade da verdade.

  • Sócrates e Platão
Críticos às teses dos sofistas, nomeadamente à ideia de relatividade do saber através da palavra.

-          Para Sócrates a retórica é, antes de mais, a arte de ter influência sobre as almas;
-          A retórica é um método de busca da verdade e do bem, sendo estes universais e objectivos
-          A retórica visa a eliminação do contraditório e da discussão de base aparente;


domingo, 16 de novembro de 2014

Livros



Com tradução para português pela GRADIVA, uma viagem pela filosofia e pela matemática no séc XX tendo como pano de fundo a vida de Bertrand Russel. Vou ler e depois digo alguma coisa. A fazer fé no que foi dito por reconhecidos homens da ciência, estamos perante uma obra de arte(argumento de autoridade).

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Série Textos de Alunos: Touradas - argumento contra

http://unhasinspiradas.com/tag/espanha/

Um dos argumentos mais usados a favor das touradas é o da tradição.
Podemos usar o seguinte argumento:
. As tradições merecem ser preservadas.
. A tourada é uma tradição.
. Logo, a tourada merece ser preservada.
Seguindo a linha lógica de raciocínio podemos ter em conta outros argumentos como:
. As tradições merecem ser preservadas.
. Apedrejar mulheres infiéis em algumas culturas é uma tradição.
. Logo,  em algumas culturas, apedrejar mulheres infiéis deve ser preservado.

  Concluímos que o argumento que defende que as touradas devem ser preservadas uma vez que são uma tradição não se sustenta racionalmente­­. Podemos ver nas tradições uma forma de melhoria e ajuda ao desenvolvimento do ser humano.

  Um outro argumento defensor das touradas invoca a ética tentando assim justificar a violência das touradas sendo este: "A ética tauromáquica é pois a seguinte: respeita-se a natureza do touro, combatendo-o, pois é um animal de combate.(...) Sendo o touro um ser por natureza bravo, ele realiza o seu grande bem lutando, ele realiza a sua natureza de lutador na luta e ele realiza-se plenamente a ele próprio na corrida e pela corrida". 

O uso destes argumentos pretende provar logicamente que quem defende o touro é o próprio toureiro.

Seguindo esta linha de raciocínio qualquer um pode concluir também que num cenário de tortura quem defende a vítima de tortura é o torcionário.

Em Portugal, segundo uma sondagem recente, a percentagem de portugueses que não gosta de touradas é de 74,5 % contra 24,7 que ainda gosta (cf. Público, 26.08.2002). O artigo 9.º da Constituição da República Portuguesa tem como tarefa fundamental do Estado “promover o bem-estar e a qualidade de vida do povo”, o que se contradiz pela permissão das touradas, que ofendem o sentimento maioritário da população e contribuem para a degradação moral de quem obtém prazer estético e psicológico com o sofrimento dos animais.

  Assim concluo que as touradas não devem ser preservadas uma vez que desrespeitam o direito dos animais, são causa de desconforto para a maioria populacional e não há argumentação racional para a existência da tortura de bovinos.

                             Trabalho realizado por: José Patrocínio

                                                                             11º I, nº 16

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Série Textos de Alunos: É a tourada aceitável?






No tempo em que a Península Ibérica era ocupada pelos Celtiberos, era costume a realização de sacrifícios de touros em adoração aos deuses, bem como uma forma de honrar a força, a bravura, a fecundidade e a vida. No século XII, foram registadas touradas em países como Portugal, Espanha, França e Peru. Estes festejos consistiam em colocar um único touro no centro de uma arena, o qual seria enfrentado por dúzias de homens, e no final morto à vista de todos os espectadores.

Nove séculos mais tarde, é possível perceber que pouco mudou, mesmo admitindo que as mentalidades evoluíram e as pessoas tornaram-se muito mais civilizadas, a tortura de um animal continua a ser considerada um espectáculo.

Os apoiantes desta prática defendem-na insistindo que é uma tradição portuguesa de muitos anos que deveria ser mantida; afirmando ainda que os touros que participam na tourada irão para o matadouro de qualquer forma, sendo assim uma maneira de os mesmos poderem mostrar a sua resistência e poder, considerando-o um acto de benevolência para com os touros. Outros consideram ser um espectáculo lucrativo, bem como uma forma diferente de divertimento.

Porém, em Roma era hábito realizarem lutas de gladiadores até à morte onde famílias inteiras iam, por diversão, observar este espectáculo macabro. Uma tradição que esteve presente na história de Itália durante várias gerações até chegarem à conclusão que era um atentado à vida humana. Sim, é verdade que os seres humanos possuem uma mente mais evoluída do que a dos animais, os quais são conduzidos por instintos selvagens, mas se colocassem uma pessoa com sérias deficiências mentais no meio de uma arena e lhe espetassem espadas nas costas, seria o acto aceitável? Toda a gente sabe das lutas ilegais entre cães ou gatos que ocorrem, infelizmente, um pouco por todo o mundo. Até que ponto é justa a legalidade conferida à tourada? Será que o touro por ser um animal mais agressivo pode ser martirizado sem qualquer punição para os homens que praticam tal acto? Ou será que os interesses financeiros falam mais alto do que a relação harmoniosa e desejável entre o homem e o animal? Finalmente, em relação ao que eles chamam de acto de benevolência, na minha opinião, consiste na exploração do sofrimento e na luta desesperada do animal pela sobrevivência. A nobreza do touro não pode servir de capa aos desejos humanos de divertimento e, diria mesmo, de sadismo.

Concluindo, com todo o respeito que me merecem as diferentes formas de espectáculo e os gostos pessoais de cada um, não posso concordar com uma diversão em que não é solicitada opinião de participação a um dos elementos envolvidos no jogo.


Carolina Fernandes Duarte

11ºI, Nº8

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Lógica Proposicional


Através da lógica proposicional é possível avaliar a validade de um argumento. Um inspector de circunstância, com o recurso às tabelas da verdade, pode revelar se um argumento é válido pela simples constatação da presença ou não de circuntâncias que possuem premissas verdadeiras e conclusão falsa.

Contudo, será necessário algumas explicações prévias.


 Vejamos os seguintes argumentos:


Platão é grego e Sócrates é grego
Logo, Platão é grego

Em lógica proposicional aplicamos determinadas letras para substituir as proposições, tal como em aritmética substituímos números por letras: 2+3=5 pode-se exprimir por X+Y=Z quando queremos dizer qualquer número.

Quantas proposições temos no exemplo?

Duas: Platão é grego e Sócrates é Grego. De seguida vamos substituir cada proposição por uma letra

p: Platão é grego.
q: Sócrates é grego.

Então, substituindo as proposições por letras, fica: P e Q, logo P. A estas letras chamaremos variáveis proposicionais

variáveis proposicionais: Correspondem às letras P,Q, R... que representam lugares vazios que só podem ser ocupados por proposições.

Exercícios: substituir as proposições pelas respectivas letras.

O João é alto e a Maria é Alta
Logo, o João é Alto

Resposta: 

p: João é alto.
q: Maria é alta

p e q, logo p

As conectivas


Utilizamos conectivas proposicionais para expressar determinadas formas lógicas. Entende-se por conectiva expressões que se podem acrescentar a uma frase ou frases, formando assim novas frases:

Por exemplo: se juntarmos a expressão «ou» às frases «Platão era romano» e «Platão era grego», ficamos com a frase «Platão era romano ou Platão era grego».

Existem muitas formas conectivas: Penso que, acho que, porque...não são frases mas que servem para gerar uma frase se for colocada alguma depois dela.

Conectivas verofuncionais


Uma conectiva proposicional é verofuncional quando o valor de verdade da proposição com a conectiva é inteiramente determinado pelo valor de verdade da proposição ou proposições sem conectiva.



Apesar de haver várias conectivas, a Lógica Proposicional estuda cinco conectivas:

  1. ou… - A casa é amarela ou está isolada                               v - disjunção
  2. e… - A casa é amarela e está isolada………………………^ - conjunção
  3. não…- A casa não é amarela………………………………….¬ - negação
  4. se…,então… - Se estiver sol, então irei à praia……………….-> - condicional
  5. se, e só se,..- Irei à praia, se e só se, estiver sol……………<-> bicondicional

Tabelas da verdade


A disjunção


Uma tabela da verdade é uma disposição gráfica que permite exibir as condições de verdade de uma forma proposicional dada.

Assim, segundo a proposição «O professor vai ganhar a lotaria ou os alunos vão ganhar» pode ser traduzida por uma tabela da verdade da seguinte maneira:

P  Q
P  v  Q
V  V
V  F
F. .V
F.. F
V
V
V
F

Estão evidenciadas as condições de verdade de uma disjunção inclusiva, caso os dois ganhem.

Contudo, se usasse a minha disjunção de modo exclusivo, caso o professor ganhasse de forma exclusiva, a tabela já seria diferente:

P  Q
P v  Q
V  V
V  F
F. .V
F.. F
F
V
V
F

A Conjunção


A conjunção corresponde a proposições cujo conector verofuncional é o «e»

Assim temos um exemplo: «Manuel de Arriaga está apaixonado» e «Manuel de Arriaga é rico»

Eis a tabela da verdade:

P  Q
P ^ Q
V  V
V  F
F. .V
F.. F
V
F
F
F

A Negação


Chama-se negação a qualquer proposição tipo «não P»

Eis a tabela da verdade:

P
¬P
V
F
F
V


Exercícios:
1-Diga o valor de verdade das seguintes proposições:

a)      3»1 e 4»2.
b)      O sol é um planeta ou Júpiter é uma estrela.
c)      O papagaio é uma ave ou a cobra é um réptil.
d)     2 é divisor de 6 e 7 é múltiplo de 3.

2- Considere as seguintes proposições:
            p- Manuel é futebolista
            q- Manuel é pintor
Escreva em linguagem natural
a)      p ^q
b)      pvq
c)      ~pvq~
d)     ~p^~q
e)      ~qv~p

Condicional


Chama-se condicional a qualquer argumento com a forma «se P, então Q»

Por exemplo: «se a relva é verde, então tem clorofila».




P  Q
P=>Q
V  V
V  F
F. .V
F.. F
V
F
V
V

Uma condicional é falsa quando a antecedente é V e a consequente é F
É fácil colocar um F na segunda linha. Se a relva é verde e não tiver clorofila, então é falsa a condicional.

Nos meios lógicos, a condicional é bastante questionada quanto à sua verofuncionalidade. Os estóicos consideram que a condicional é verofuncional porque, ao construirmos uma proposição tipo «se, então» estou a sugerir uma conexão mas não afirmo efectivamente a existência de tal conexão.

Um argumento deste tipo pode ser enganador mas não é falso.


Bicondicional


P se, e só se, Q
Ex: Um argumento dedutivo é válido se, e só se, for impossível as premissas serem verdadeira e a conclusão falsa.

João terminará a horas o seu trabalho se, e só se, os amigos o ajudarem


P  Q
P<=>Q
V  V
V  F
F. .V
F.. F
V
F
F
V

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Popper e Hume

David Hume afirmou a existência de questões de facto e relações de ideias no que ao conhecimento diz respeito. Se as relações de ideias não nos dizem nada acerca do mundo, porque são «a priori», já as segundas são provenientes da experiência. São «a posteriori» e o seu princípio lógico é a indução, isto é, a repetição de um número de casos leva-nos a supor a existência desses casos. Por exemplo, suponhamos que sou extraterrestre e vejo vários cisnes pretos, como um dos meus processos lógicos é a indução concluo que todos os cisnes são pretos. Estou a pensar através da observação de casos particulares para concluir uma ideia geral. Hume considerava este processo a única forma de produzir conhecimento, o que o levou a supor que não possuo segurança total para afirmar que o próximo cisne será preto. Também é normal que, através da indução, estabeleça uma relação causa-efeito. Sempre que lanço uma pedra, a pedra cai, levando-me a concluir que as pedras, sempre que lançadas, caem. Para Hume, esta conclusão é alcançada através do hábito e da sucessão temporal. Mas daí não consigo afirmar com convicção que sempre assim será, sempre que lanço uma pedra, a pedra cairá.

Popper tentou ultrapassar este processo, porque deste modo não confiaríamos na ciência. Ora, é bom que confiemos na ciência, caso contrário havemos de confiar em quê? Popper tentou solucionar este impasse afirmando que, ao contrário da ideia de Hume (a prática precede a teoria), no conhecimento a teoria precede a prática. Assim sendo, Popper afirma que o método deve ser hipotético-dedutivo porque o importante na ciência não é como chegamos à teoria, mas como da teoria desenvolvemos a experiência. 



Popper acrescenta uma nova fase ao processo de Hume. Possuindo a Teoria (todos os cisnes são pretos) encetamos a procura de factos que REFUTEM a teoria. A este procedimento, Popper designa-o de FALSIFICACIONISMO e que é diferente do VERIFICACIONISMO.

O verificacionismo é um procedimento do método indutivo, baseando-se na ideia de que devemos procurar factos que comprovem a teoria. Por exemplo, tendo a teoria de que todos os cisnes são pretos, devemos na fase experimental procurar cisnes pretos., o que para Popper é manifestamente impossível, pois o verificacionismo exigiria conhecer todos os factos, existentes e não existentes.

O falsificacionismo é diferente. Quando possuímos a teoria de que todos os cisnes são pretos, devemos procurar factos que refutem a teoria, isto é, devemos procurar cisnes brancos. Por esse motivo, Popper designa as teorias de CONJETURAS, meras hipóteses que necessitam de ser contrariadas. Uma boa teoria científica será, portanto, aquela que se predispõe a ser refutada. Alcança-se a OBJETIVIDADE da ciência. Uma teoria é objectiva se puder ser refutada, se se predispuser a que se encontre factos observáveis que refutem a teoria inicial.


Por que razão a astrologia não pode ser científica? Quando lemos o nosso horóscopo reparamos que estão escritos de tal forma que parece que acertam sempre. Ora, a ciência é boa caso seja possível constatar que possa ser falsa.

António Daniel

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

EXistenZ: O Problema do Livre Arbítrio






O filme de David Cronenberg de 1999 insere-se num ambiente cinematográfico muito curioso de finais de milénio. Surgiram realizações como Matrix ou The Truman Show que sugestionaram uma realidade manipulada, ou por uma máquina publicitária, onde se joga o destino e a vida, ou por um programa que enceta mecanismos de perfeita manipulação, do género «Deus ex machina». 
Existenz insere-se nesta vertente cinematográfica com a novidade de apresentar a noção de jogo, como é apresentado em Matrix, e com a tentativa, conseguida, de produção da ideia de ausência de limite entre a realidade e a ficção. A realidade é ficção ou a ficção é a realidade? Seja qual for a resposta, em Existenz surge um enredo proporcionado pelo jogo, sendo o próprio filme um jogo, com as suas regras e  respetivas possibilidades de escolha que permitem a sucessão de acontecimentos numa cadeia de relação causa-efeito, como é perfeitamente evidente na cena do restaurante chinês. Todos os momentos são, pois, direcionados num processo causal, tendo o jogador a única função de descobrir as diversas portas que se vão abrindo, permitindo-lhe pensar que tudo depende da sua capacidade de resposta e de decisão. Mesmo em momentos de possível desistência, que pretende questionar a presença de vontade própria e decisão de Law, somos levados para outros mundo virtuais o que leva o próprio Law a interrogar-se sobre a separação entre o real e o virtual. A vida surge como um processo de alienação da realidade (o que é isto), da circunstância pessoal, correspondendo a um plano pre-estabelecido e determinístico. Conhecendo as causas, conhece-se os efeitos. 
O final é o desenlace de todo o processo virtual, ou simplesmente o começo? Será que no mundo virtual existe esta evidência temporal? O tempo foi construído na assumpção de que o ser humano é capaz de o produzir. Apesar do passado existir e apresentar razões para, o presente consiste na capacidade de alterar o curso normal dos acontecimentos. No mundo virtual tudo é mera aparência.O final é sempre um começo.