sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

EXistenZ: O Problema do Livre Arbítrio






O filme de David Cronenberg de 1999 insere-se num ambiente cinematográfico muito curioso de finais de milénio. Surgiram realizações como Matrix ou The Truman Show que sugestionaram uma realidade manipulada, ou por uma máquina publicitária, onde se joga o destino e a vida, ou por um programa que enceta mecanismos de perfeita manipulação, do género «Deus ex machina». 
Existenz insere-se nesta vertente cinematográfica com a novidade de apresentar a noção de jogo, como é apresentado em Matrix, e com a tentativa, conseguida, de produção da ideia de ausência de limite entre a realidade e a ficção. A realidade é ficção ou a ficção é a realidade? Seja qual for a resposta, em Existenz surge um enredo proporcionado pelo jogo, sendo o próprio filme um jogo, com as suas regras e  respetivas possibilidades de escolha que permitem a sucessão de acontecimentos numa cadeia de relação causa-efeito, como é perfeitamente evidente na cena do restaurante chinês. Todos os momentos são, pois, direcionados num processo causal, tendo o jogador a única função de descobrir as diversas portas que se vão abrindo, permitindo-lhe pensar que tudo depende da sua capacidade de resposta e de decisão. Mesmo em momentos de possível desistência, que pretende questionar a presença de vontade própria e decisão de Law, somos levados para outros mundo virtuais o que leva o próprio Law a interrogar-se sobre a separação entre o real e o virtual. A vida surge como um processo de alienação da realidade (o que é isto), da circunstância pessoal, correspondendo a um plano pre-estabelecido e determinístico. Conhecendo as causas, conhece-se os efeitos. 
O final é o desenlace de todo o processo virtual, ou simplesmente o começo? Será que no mundo virtual existe esta evidência temporal? O tempo foi construído na assumpção de que o ser humano é capaz de o produzir. Apesar do passado existir e apresentar razões para, o presente consiste na capacidade de alterar o curso normal dos acontecimentos. No mundo virtual tudo é mera aparência.O final é sempre um começo. 

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