quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

O problema do Livre Arbítrio


 Determinismo:

Tudo o que fazemos é causado por forças que não controlamos.
Se as nossas forças são causadas por forças que não controlamos, então não agimos livremente.
Logo, nunca agimos livremente.
Dizer que um sistema é determinista é afirmar que tudo o que nele acontece resulta de causas anteriores, e que, logo que as causas ocorram, os efeitos têm de se seguir inevitavelmente, dadas as circunstâncias circundantes a as leis da natureza[1]. Então, sempre que encontremos a mesma causa, encontraremos o mesmo efeito. Isto é, sempre que as mesmas circunstâncias ocorrerem, serão produzidos os mesmos efeitos, tornando previsíveis os acontecimentos. O determinismo não constata simplesmente a presença de causas, afirma que essas causas, sempre que ocorram nas mesmas circunstâncias, produzirão os mesmos efeitos. Daí que se negue a presença de deliberação livre da vontade no que respeita ao ser humano.

Exemplos:
- O ciclo da água;
- Os sismos;
- Os vulcões;
Se ocorrerem determinadas circunstâncias, então os efeitos decorrem inevitavelmente de certas causas. Sempre que um anticiclone estaciona nos Açores o tempo em Portugal é influenciado. O efeito desse anticiclone é sempre idêntico.

Há dias em que temos saudades do anticiclone dos Açores.
E o ser humano? É possível vislumbrar-lhe características determinísticas?

Os acontecimentos neurológicos.
Os estados conscientes são causados por acontecimentos neurológicos. Realizam-se por vezes cirurgias cerebrais apenas com anestesia local, o que permite ao paciente estar consciente e descrever o que lhe vai acontecendo à medida que se vai fazendo estimulação das partes do cérebro.
Assim, descobriu-se que, estimulando várias regiões do cérebro, conseguia-se causar todos os tipos de movimentos corporais, franzir as sobrancelhas, fechar o olho, etc… Até aqui compreende-se que tal possa ser possível. Mas o mais curioso foi constatar que os animais que tinham sido sujeitos a estas estimulações, não ficaram surpreendidos com os movimentos, não revelando qualquer medo.
Do mesmo modo, estimulando um cérebro humano e sem que o paciente soubesse, foi produzido um movimento da cabeça e do tronco bem orientado e aparentemente normal. Repetiu-se várias vezes esta estimulação o que revelou uma coisa ainda mais curiosa: o paciente conseguia explicar os movimentos, dizendo que andava à procura dos chinelos ou que tinha ouvido barulho. Um mero reflexo causado por factores externos ao cérebro promoveu uma consciência.
Estamos perante exemplos muito fortes de defesa do determinismo e a consequente negação do livre arbítrio.

A Sociedade e a cultura
No princípio do século vinte, com a crescente importância de um novo ramo do conhecimento – Psicologia - assistiu-se à promoção de teorias que professavam a influência fundamental do meio para o desenvolvimento do indivíduo. O Behaviorismo[2] culminou com teses que sustentavam que a educação determinava o desenvolvimento. Seria possível, ao produzir ambientes favoráveis, direccionarmos o desenvolvimento da criança para aquilo que desejaríamos. Neste sentido, o determinismo social mostrava que há uma relação causa-efeito entre a circunstância onde se vive e aquilo que se é. Eu sou a minha circunstância.
Há factos que sustentam esta tese. Estatisticamente, as pessoas oriundas de meios economicamente desfavorecidos têm mais probabilidade de ter insucesso escolar. Outro exemplo pode ser encontrado no aumento considerável de suicídios junto de jovens quando os meios de comunicação dão notícia deste tipo de ocorrências.

Factores genéticos.
Também os factores genéticos parecem ter um peso significativo nas decisões, escolhas e apetências. Certos estudos mostram a grande proximidade comportamental entre gémeos monozigóticos educados em ambientes diferenciados. É conhecido o caso dos gémeos Jack Yufe e Oskar Stohr. Um deles foi criado em Trindade pelo seu pai; o outro pela sua avó na Alemanha. Apesar disso, quando voltaram a encontrar-se, ambos usavam óculos com armações rectangulares e camisa com dois bolsos e dragonas. Ambos tinham um pequeno bigode. Ambos gostavam de ler revistas de trás para a frente, além de outras semelhanças desconcertantes.

O argumento determinista é, então, o seguinte:
Se as nossas acções são causadas por forças que não controlamos (no sentido de não depender de nós que algo aconteça, mas sim das circunstâncias que inevitavelmente produzirão certos efeitos), não agimos livremente.
Tudo o que fazemos é causado por forças que não controlamos.
Então não agimos livremente.

Logo, nunca agimos livremente.




[1] James Rachel, Problemas da Filosofia, Gradiva.

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