Filosofia, retórica e democracia
Desde cedo que nos
interessamos sobre a origem da civilização ocidental. É nela que vivemos, é
nela que depositamos os nossos projectos. Ao contrário da intenção de Karl
Popper, não pretendemos discutir se a nossa civilização é a melhor ou a pior
relativamente a outras. Simplesmente vamos procurar a sua génese e,
consequentemente, vamos conhecer melhor aquilo que somos.
Ao
longo da história humana foram muitas as civilizações que despontaram,
contribuindo para o devir (evolução, desenvolvimento...) do mundo. Umas
mais violentas, outras mais pacíficas, mas todas marcaram indelevelmente a
marcha da história. Um dos pontos mais marcantes aconteceu por volta do séc.
VII AC. Numa região de clima ameno influenciado pelas marés calmas e cálidas do
mediterrâneo oriental, emergiu um povo que se dedicou a pensar, ou melhor,
colocou como prioridade da sua efémera existência o pensamento, além de outras
actividades, nomeadamente físicas, como demonstra o interesse pelas olimpíadas.
Os
gregos eram um povo culto. Promoviam inúmeras actividades culturais, entre as
quais se encontrava a Tragédia Grega. Forma teatral por excelência, a Tragédia
Grega decorria em grandes anfiteatros (do género daquele da Lourinhã junto
ao edifício da Câmara). Aí eram protagonizadas grandes sessões teatrais de
autores tão célebres como Sófocles ou Eurípedes (para ver as características da
Tragédia Grega ler Nietzsche, A Origem da Tragédia ou Aristóteles
em Poética). Estes autores escreviam grandes textos que ainda hoje
merecem a nossa maior atenção, nomeadamente no que respeita às grandes
descrições míticas. Foi aí que tudo começou!
O
mito sempre acompanhou a vida do homem. Perante fenómenos que não possuíam
explicação e que ultrapassavam o seu domínio, o homem criou um conjunto de
teorias, mais ou menos sistemáticas, com uma certa coerência, mas dominado por
explicações fantásticas. Estas formas mitológicas eram formadas por duas
modalidades fundamentais: as Cosmogonias e as Teogonias. Ambas as posições
incluem narrativas de génese que descrevem o aparecimento de um mundo ordenado
e baseiam-se em mitos de soberania que exaltam o poder de um deus reinante no
universo. Mais especificamente, as Teogonias revelam a luta divina pela soberania
e as Cosmogonias elegem a Arché, a origem do cosmos, personificada pela
força das antigas divindades, como assunto fundamental.
Só
que... apareceram uns sábios, pelo menos eram assim considerados, que disseram
umas coisas diferentes: O princípio de todas as coisas é a água, como
advogou Tales. Que significa esta viragem? Quais as diferenças entre esta nova
perspectiva e o mito?
Podemos
dizer que, pela primeira vez, investigou-se a natureza a partir de um prisma
desinteressado: já não são as influências míticas a condicionar o pensamento
humano. A razão (Logos) tornou-se o princípio fundamental de toda
a investigação. Em segundo lugar a frase acima transcrita mostra-nos a busca da
unidade, do princípio fundamental, a busca de uma realidade que
transcende (ultrapassa) o quotidiano: eis-nos no reino da Metafísica (relembrar
a árvore de Descartes). Estes aspectos inovadores da filosofia demonstram
bem a sua própria especificidade: a radicalidade. Tal como todo o
desporto (a filosofia também pode ser um desporto, pelo menos mental) radical,
a filosofia ultrapassa os limites, vai até à raiz da realidade (ver a
diferença entre as questões filosóficas e outros tipos de questões.) e
abrange todos os domínios dessa mesma realidade.
Porém,
o seu único método é a reflexão, devidamente enquadrada com o rigor e a
independência que ela merece. Daqui deriva outra importante especificidade da
filosofia: a autonomia. Quando falamos em autonomia estamos a designar o
acto livre. A liberdade (como já foi devidamente salientado nas aulas)
identifica-se com a reflexão e, acima de tudo, com a crítica, exercendo
um exame rigoroso sobre os assuntos com que nos deparamos. Sendo assim, a
dúvida é um momento importante da actividade filosófica (tal como foi
protagonizado por Descartes) e decorre necessariamente da admiração que
o mundo nos merece e do espanto que ele nos suscita. Estavam assim
criadas as condições para o surgimento da argumentação e da retórica.
A Polis e a democracia
O sofistas e a filosofia socrática
Entre meados do século V e IV a.c.
- Sofistas
Pressupostos da filosofia sofista:
1.Método:
empírico-indutivo.
A base da filosofia sofista consiste na experiência e, a partir
dela, criar uma tese geral. Esta atitude de investigar através da experiência
designa-se de empirismo e a lógica de transitar do particular para o geral
designa-se de indução.
2.Ideia
geral:
«O Homem é a medida de todas as coisas» (Protágoras)
Interpretação desta frase:
- A realidade está submetida à análise e simplificação do homem. A
verdade é relativa ao Homem. Relativa ao homem em geral ou a cada circunstância
humana?
- Em virtude da itinerância dos sofistas, descobriu-se que a
justiça, os sistemas de convivência, a forma como se aborda a realidade, são
diferentes em diferentes estados ou povos. O que concluíram? A verdade é
convencional. Portanto, a verdade corresponde à conveniência circunstancial dos
discursos.
Consequências para a filosofia:
1. Não
há verdades absolutas.Por
isso, a verdade passa pela persuasão.
2.Não
existem soluções únicas para os problemas.
3.As
leis dos estados não são verdadeiras nem falsas, mas úteis ou convenientes.
4.A
verdade e falsidade foram substituídas pela sensatez e insensatez.
-
O homem é
palavra e a palavra é do homem;
-
O mundo é
linguagem;
-
Educadores
itinerantes da arte de bem falar aplicada à política;
-
Visavam a
eficácia retórica na política e no direito;
-
Salientaram
a relatividade da verdade.
- Sócrates e Platão
Críticos
às teses dos sofistas, nomeadamente à ideia de relatividade do saber através da
palavra.
-
Para
Sócrates a retórica é, antes de mais, a arte de ter influência sobre as almas;
-
A retórica
é um método de busca da verdade e do bem, sendo estes universais e objectivos
-
A retórica
visa a eliminação do contraditório e da discussão de base aparente;
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