sábado, 28 de maio de 2011

O Tema da estética: O Belo III

Estes truísmos foram baseados na obra de Roger Scrupton, Beleza, Guerra e paz

De entre estes discutíveis truísmos, destaca-se a questão do juízo de valor. Por juízo de Gosto entende-se o acto mediante o qual formulamos uma proposição que atribui determinada qualidade estética (beleza, sublimidade, fealdade) a um objecto. Confere, portanto, uma legitimidade ao truísmo que nega a presença de apreciação da beleza em segunda mão. Não há forma de possuirmos uma sensação de beleza nem exercitarmos essa sensação através dos outros. Ela exige a presença in loco. Mas uma questão pode ser levantada: o que confere razão de ser ao Juízo? Actualmente, é de senso comum usarmos o subjectivismo como algo de inevitável, por isso dizemos sempre que os gostos não se discutem. A formulação do subjectivismo é «gosto de x», logo «x é belo». Contudo, quando afirmamos que algo é belo estamos implicitamente a querer partilhar algo e, acima de tudo, a querer que a nossa ideia encontre comunhão com os outro. Com o princípio subjectivo tal não é possível.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

O Tema da Estética: O Belo II


Pela análise ao anterior texto, foi fácil constatar que Platão coloca a Beleza ao mesmo nível que a Verdade, o Bem ou a Justiça. Todos estes conceitos justificam o que existe de forma participada no mundo sensível. Por isso, Platão diz que a Verdade, o Bem e a Beleza são Ideias e, por isso, correspondem à verdadeira realidade. Recuperando a análise feita ao texto da Alegoria da Caverna, as Ideias são a causa das aparências. Assim, o Belo é a causa do belo, o Bem do bem e assim sucessivamente.
Contudo, aqui podemos levantar várias questões. De entre elas, qual a consequência de colocar o valor da Beleza como idêntico ao valor da Verdade, não em termos de importância - consideramos que a nossa existência exige também a Beleza, além da Verdade - mas relativamente ao seu carácter gnoseológico. Sabemos que o alcance platónico da Ideia consiste na defesa da universalidade, daí a presença de um forte investimento por parte de Platão a favor de um intelectualismo, i. é, o exercício da racionalidade permite um maior acesso às Ideias. Contudo, se um cientista me disser que uma determinada fórmula química é constituída por certos elementos, não discuto a veracidade porque há sempre maneira de confirmar. Porém, quando afirmo que algo é belo não consigo evitar interrogações, admirações, e discussões. Porque será? Possivelmente devido ao espírito subversivo da beleza. Vamos então tentar vislumbrar a sua substância começando por evidenciar alguns dos seus truísmos.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

O Tema da Estética: O Belo I

[...]Sócrates – Por Hera! Belas palavras, Hípias, no caso de virmos a vencer o homem. Creio que não haverá inconveniente em imitá-lo, para com tuas respostas, preparar a minha argumentação e, assim, exercitar-me contigo do melhor modo possível. Tenho alguma prática de formular objeções. Se não te fizer diferença, eu mesmo as apresentarei, para ficar mais firme na matéria.
Hípias  –  Podes formulá-las. Como já te disse, a questão é muito simples; vou deixar-te em condições de responder a perguntas muito mais difíceis, de forma que ninguém te possa contradizer.
Sócrates – Oh! Isso é que é falar bem! Então, principiemos. Já que o mandas, vou colocar-me no lugar do outro, da melhor forma que puder, e procurar interrogar-te. Se lhe repetisses aquele discurso a que te referiste há pouco, a respeito das belas ocupações, logo que acabasses de falar, antes de mais nada, como é seu costume, ele interrogar-te-ia sobre o belo, mais ou menos nestes termos: Forasteiro de Élide, não é pela justiça que os justos são justos? – Responde, Hípias, como se fosse ele que te interrogasse.
Hípias – Diria que é pela justiça.
Sócrates – Então, a justiça é algo real?
Hípias – Perfeitamente.
Sócrates – Assim, pela sabedoria é que os sábios são sábios, como é também pelo bem que todos os bens são bens.
Hípias – Como não?
Sócrates – Logo, todas essas coisas são reais, sem que possam absolutamente deixar de sê-lo.
Hípias – São reais, sem dúvida.
Sócrates – E as coisas belas, não o são apenas por efeito da beleza?
Hípias – Sim, da beleza.
Sócrates – Beleza essa que também existe?
Hípias – Sem dúvida. Mas, afinal, que é o que ele quer?
Sócrates – Então, explica-me, forasteiro, voltaria a falar: que é esse belo?
Hípias  – Como assim, Sócrates? O autor dessa pergunta deseja saber o que é belo?
Sócrates – Penso que não, Hípias; porém o que seja o belo.
Hípias – E em que consiste a diferença?
Sócrates – Achas que não há diferença?
Hípias – Nenhuma.
Sócrates – É certeza saberes melhor. Mas presta atenção, amigo. Ele não te perguntou o que é belo, porém o que é o belo.
Hípias – Compreendo, bom homem, e vou responder a ele o que seja o belo, de forma que não possa refutar-me. Fica, então, sabendo, Sócrates, para dizer-te toda a verdade, que o belo é uma bela jovem.
Sócrates – Ótimo, Hípias, pelo cão! Respondeste admiravelmente. Sendo assim, no caso de eu lhe falar dessa maneira, terei dado resposta certa à pergunta apresentada, sem que ninguém me possa contraditar?
Hípias – Como poderiam contraditar-te, Sócrates, se não há quem não pense desse modo e todos os que te ouvirem confirmarão que a resposta está certa?
Sócrates – Pois que seja. Mas permite, Hípias, que chame a mim o que acabas de dizer. Meu interlocutor argumentaria mais ou menos nestes termos: Vamos, Sócrates, responde-me: Se existe o belo em si, todas as coisas que denominas belas serão belas por esse fato? Eu, de meu lado, diria que uma bela jovem é bela por efeito do que deixa belas todas as coisas.[...]


Dicas para a abordagem ao texto:
1. Formule o problema levantado pelo texto.
2. Apresente a estrutura do argumento.
3. Considere possíveis objecções às teses apresentadas.

terça-feira, 10 de maio de 2011

O véu da ignorância. Rawls II

O problema é assim claro: como escolher justamente os princípios da Posição Original? Diz Rawls que o véu de ignorância significa que os intervenientes «não sabem como é que as alternativas vão afectar a sua situação concreta e são obrigados a avaliar os princípios apenas com base em considerações gerais» (Uma Teoria da Justiça, 121). Será importante que ninguém conheça o seu lugar na sociedade, a sua classe ou estatuto, assim como os seus talentos naturais. A única coisa que conhecem é o facto da sociedade estar submetida à justiça. Estes pressupostos garantem a regra maximin. Num conjunto de alternativas os sujeitos na posição original têm tendência de jogar pelo seguro, na medida em que estão sob a influência do véu, escolhendo os princípios que melhor previnam situações futuras. Numa situação em que há possibilidade de fazer a distribuição de bens de forma muito desigual (por exemplo, distribui-se 10 bolos por três pessoas, ficando um com 2, outro com 6 e outro com dois) ou de forma pouco desigual (3 para um, 3 para outro e 4 para outro), a tendência razoável (ver a diferença entre Racionalidade e Razoabilidade na obra de Rawls Liberalismo Político) seria escolher a segunda hipótese, pelo menos por mera precaução.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Justiça Distributiva - Rawls I

A Justiça Distributiva é um ramo da Justiça que se preocupa com a forma como a riqueza e as obrigações são distribuídas pelos cidadãos de um Estado ou de uma Comunidade. Nesta noção, inscrevem-se as diferenças actuais entre a designada esquerda, com o enfoque dado à importância da acção do Estado, e direita, remetendo mais a sua acção para o domínio do privado.
Na década de 70 do século passado, John Rawls (1921-2002) publicou uma obra que obteve muitas reacções mas que marcou de forma visível os espectros da Filosofia e até da praxis políticas: Uma Teoria da Justiça. Obra densa e de aturada leitura, Uma Teoria da Justiça revela um Rawls que promove, inspirado no contratualismo clássico, a ideia de Posição Original. Neste situação, quase idêntica ao contrato, Rawls sustenta a necessidade da escolha de princípios basilares de qualquer sociedade. Os princípios por ele escolhidos são:
       Princípio da liberdade igual: A sociedade deve assegurar a máxima liberdade para cada pessoa compatível com uma liberdade igual para todos os outros.
       Princípio da oportunidade justa: As desigualdades económicas e sociais devem estar ligadas a postos e posições acessíveis a todos em condições de justa igualdade de oportunidades.
       Princípio da diferença: A sociedade deve promover a distribuição igual da riqueza, excepto se a existência de desigualdades económicas e sociais gerar o maior benefício para os menos favorecidos.
(cont.)