[...]Sócrates – Por Hera! Belas palavras, Hípias, no caso de virmos a vencer o homem. Creio que não haverá inconveniente em imitá-lo, para com tuas respostas, preparar a minha argumentação e, assim, exercitar-me contigo do melhor modo possível. Tenho alguma prática de formular objeções. Se não te fizer diferença, eu mesmo as apresentarei, para ficar mais firme na matéria.
Hípias – Podes formulá-las. Como já te disse, a questão é muito simples; vou deixar-te em condições de responder a perguntas muito mais difíceis, de forma que ninguém te possa contradizer.
Sócrates – Oh! Isso é que é falar bem! Então, principiemos. Já que o mandas, vou colocar-me no lugar do outro, da melhor forma que puder, e procurar interrogar-te. Se lhe repetisses aquele discurso a que te referiste há pouco, a respeito das belas ocupações, logo que acabasses de falar, antes de mais nada, como é seu costume, ele interrogar-te-ia sobre o belo, mais ou menos nestes termos: Forasteiro de Élide, não é pela justiça que os justos são justos? – Responde, Hípias, como se fosse ele que te interrogasse.
Hípias – Diria que é pela justiça.
Sócrates – Então, a justiça é algo real?
Hípias – Perfeitamente.
Sócrates – Assim, pela sabedoria é que os sábios são sábios, como é também pelo bem que todos os bens são bens.
Hípias – Como não?
Sócrates – Logo, todas essas coisas são reais, sem que possam absolutamente deixar de sê-lo.
Hípias – São reais, sem dúvida.
Sócrates – E as coisas belas, não o são apenas por efeito da beleza?
Hípias – Sim, da beleza.
Sócrates – Beleza essa que também existe?
Hípias – Sem dúvida. Mas, afinal, que é o que ele quer?
Sócrates – Então, explica-me, forasteiro, voltaria a falar: que é esse belo?
Hípias – Como assim, Sócrates? O autor dessa pergunta deseja saber o que é belo?
Sócrates – Penso que não, Hípias; porém o que seja o belo.
Hípias – E em que consiste a diferença?
Sócrates – Achas que não há diferença?
Hípias – Nenhuma.
Sócrates – É certeza saberes melhor. Mas presta atenção, amigo. Ele não te perguntou o que é belo, porém o que é o belo.
Hípias – Compreendo, bom homem, e vou responder a ele o que seja o belo, de forma que não possa refutar-me. Fica, então, sabendo, Sócrates, para dizer-te toda a verdade, que o belo é uma bela jovem.
Sócrates – Ótimo, Hípias, pelo cão! Respondeste admiravelmente. Sendo assim, no caso de eu lhe falar dessa maneira, terei dado resposta certa à pergunta apresentada, sem que ninguém me possa contraditar?
Hípias – Como poderiam contraditar-te, Sócrates, se não há quem não pense desse modo e todos os que te ouvirem confirmarão que a resposta está certa?
Sócrates – Pois que seja. Mas permite, Hípias, que chame a mim o que acabas de dizer. Meu interlocutor argumentaria mais ou menos nestes termos: Vamos, Sócrates, responde-me: Se existe o belo em si, todas as coisas que denominas belas serão belas por esse fato? Eu, de meu lado, diria que uma bela jovem é bela por efeito do que deixa belas todas as coisas.[...]
Adaptado a partir daqui: http://magis.colegiomedianeira.g12.br/pdf/antologia_completa.pdf
Dicas para a abordagem ao texto:
1. Formule o problema levantado pelo texto.
2. Apresente a estrutura do argumento.
3. Considere possíveis objecções às teses apresentadas.
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