domingo, 30 de janeiro de 2011

Kant - parte II


Por volta do século XVIII, surge na Europa uma ideia que marcou de forma indelével toda a história humana. Sistematizaram a ideia de racionalidade como contraponto ao pensamento feudal ainda dominante.É neste ambiente que Kant elabora a sua Fundamentação da Metafísica dos Costumes. 
Qual a melhor forma de encontrar um princípio que seja a base de uma ética e que possibilite a todos, independentemente das crenças, cor de pele ou outras idiossincrasias, promoverem acções consideradas morais? Obviamente que a raiz desse princípio encontra-se na razão, faculdade presente em todos os seres humanos. O que é, então, agir racionalmente? O ser humano, pelo menos até hoje e possivelmente nos próximos anos, é capaz de fazer matemática, publicar livros de filosofia, realizar filmes e produzir música. Decorre daqui que existe algo de misterioso em nós: designou-se de razão essa misteriosa faculdade humana. Ser racional significa ter desejos, intenções, decisões e crenças. Mas não basta isto para dizermos que o ser humano é racional. Temos que acrescentar a possibilidade que ele tem de olhar por cima do seu ombro e, assim, descobrir o que é ou não correcto fazer. A sua generalidade, isto é, a sua capacidade de ler e avaliar a realidade, seja o que isso for, acima de qualquer tendência subjectiva, é uma marca perfeita para construir algo que esteja acima dos meros interesses pessoais. Por este motivo, Kant afirma que, se pretendemos ter algum ensejo ético, devemos tratar as pessoas com dignidade. O que é a dignidade humana (perdoem-me o antropocentrismo)? 

2 comentários:

  1. Boa pergunta! Kant diria que é agir segundo uma vontade em si mesma boa. O imperativo categórico (que deve ser seguido sem mais explicações nem justificações) diz: "Age de tal maneira que possas tornar a tua acção numa lei universal da natureza." Agir em função do dever é ser autónomo e ser autónomo é ser livre. Existem regras morais absolutas tais como "não matar" ou "não mentir". Vamos supor então que um de nós tinha um amigo que andava fugido à polícia escondido em casa. Certo dia, um oficial bate-nos à porta e pergunta pelo fugitivo. O que fazer em tal situação? O mais correcto seria mentir para proteger o nosso amigo. Porém, não é essa a resposta de Kant. Agir em função do dever seria, neste caso, dizer que sim, que o amigo estava escondido em nossa casa. O que é, afinal, a dignidade humana?

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  2. Kant responde a essa questão dizendo que, ao dizermos a verdade não somos responsabilizados pelas consequências. Caso se minta, somos responsabilizados. Por outras palavras, se mentíssemos e o nosso amigo afinal fosse para fora de casa mal pressentisse a presença do polícia acabando por ser apanhado sentir-nos-íamos responsáveis. Pelo contrário, dizendo a verdade não nos responsabilizaria. Talvez aqui haja necessidade de alguns esclarecimentos que mais adiante apresentaremos. Mas também podemos pensar na nossa acção perante a autoridade policial. Aí poderíamos reforçar a verdade, na medida em que o nosso amigo seria um criminoso.

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