A filosofia de Kant divide-se em
três grandes temáticas: a Crítica da Razão Pura, a Crítica da Faculdade de
Julgar e a Crítica da Razão Prática. É na primeira que a Imaginação está
presente.
A Crítica da Razão Pura apresenta
as razões que presidem ao conhecimento científico. Diz Kant na Estética Transcendental que não há
conhecimentos sem intuições. Mas a intuição não pode ocorrer sem a presença do
objecto. Significa isto que no acto de conhecer, o ser humano tem de ser
necessariamente afectado pelo objecto. A essa capacidade de receber impressões
dos objectos, Kant atribui o nome de Sensibilidade. Esta capacidade é receptiva
e possui as designadas intuições puras, formas a priori que permitem organizar as impressões sensíveis
transformando-as em sensações ou intuições sensíveis. Portanto, a experiência,
o contacto com a realidade fornece-nos a matéria do conhecimento, as intuições
puras sugerem a forma do conhecimento. Que intuições puras são essas? Kant
designa-as de Espaço e Tempo. Estas formas puras da Sensibilidade mostram, na
opinião de Kant, que devemos encarar o conhecimento como uma adaptação do
objecto ao sujeito (Kant designa esta perspectiva como revolução copernicana). Por
outras palavras, os nossos sentidos externos, pelos quais recebemos impressões
dos objectos que estão fora de nós, conjugando-se com os sentidos internos, são
representados no espaço e enquadradas pelo tempo, condições formais do
conhecimento
Caso ficássemos por aqui, o nosso
conhecimento seria limitado, até poderíamos considerar não haver conhecimento.
Para Kant, o objecto do conhecimento será aquele em cujo conceito se unifica a
multiplicidade de uma intuição dada. A síntese é obra do Entendimento.
Faculdade espontânea, o entendimento possui categorias ou conceitos puros que
atribuem esse mesmo sentido às representações provenientes da sensibilidade. À
relação entre o sujeito e a multiplicidade da intuição Kant atribui a
designação de apercepção pura, afirmando a existência do «eu penso», da
consciência. O conhecimento é acompanhado pela consciência. Mas, uma pergunta
se mantém: como aplicar as categorias do entendimento à diversidade das
intuições sensíveis?
À Imaginação é conferida um papel
de mediador entre a Sensibilidade e o Entendimento. A imaginação é produtora de
esquemas e um esquema é um procedimento de construção de uma imagem que
delimita uma categoria. A categoria tem afinidade com o conceito, a imagem com
a intuição sensível, daí que a Imaginação pertença à sensibilidade porque « a condição subjectiva é a única pela qual
pode ser dada aos conceitos do entendimento uma intuição correspondente» (Kant,
I, CRP, Calouste Gulbenkian, B151, p.151)
. Exemplificando, o conceito de cão é uma imagem que funciona como esquema
para poder ser aplicada à diversidade das sensações recebidas correspondentes ao
animal. Como este exemplo pode suscitar equívocos, nada melhor do que referir o
Tempo, que é um produto da imaginação porque «somos nós próprios que introduzimos, portanto, a ordem e a regularidade
dos fenómenos, que chamamos natureza […] Com efeito, esta unidade da natureza
deve ser uma unidade necessária, isto é, certa a priori» (CRP, A126, p.168).
O Tempo está contido em toda a representação empírica e tem correspondência com
cada categoria. Assim, a noção de causalidade, por exemplo, determina que uma
coisa seja sucedida a outra coisa de acordo com a noção objectiva da regra de
causalidade. A Imaginação está, assim, inserida entre dois campos; por um
lado, o diverso da intuição, por outro a condição da unidade necessária da aperceção
pura.
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