domingo, 24 de junho de 2018

A Imaginação em Kant


Resultado de imagem para Revoluçaõ copernicana


A filosofia de Kant divide-se em três grandes temáticas: a Crítica da Razão Pura, a Crítica da Faculdade de Julgar e a Crítica da Razão Prática. É na primeira que a Imaginação está presente.
A Crítica da Razão Pura apresenta as razões que presidem ao conhecimento científico. Diz Kant na Estética Transcendental que não há conhecimentos sem intuições. Mas a intuição não pode ocorrer sem a presença do objecto. Significa isto que no acto de conhecer, o ser humano tem de ser necessariamente afectado pelo objecto. A essa capacidade de receber impressões dos objectos, Kant atribui o nome de Sensibilidade. Esta capacidade é receptiva e possui as designadas intuições puras, formas a priori que permitem organizar as impressões sensíveis transformando-as em sensações ou intuições sensíveis. Portanto, a experiência, o contacto com a realidade fornece-nos a matéria do conhecimento, as intuições puras sugerem a forma do conhecimento. Que intuições puras são essas? Kant designa-as de Espaço e Tempo. Estas formas puras da Sensibilidade mostram, na opinião de Kant, que devemos encarar o conhecimento como uma adaptação do objecto ao sujeito (Kant designa esta perspectiva como revolução copernicana). Por outras palavras, os nossos sentidos externos, pelos quais recebemos impressões dos objectos que estão fora de nós, conjugando-se com os sentidos internos, são representados no espaço e enquadradas pelo tempo, condições formais do conhecimento
Caso ficássemos por aqui, o nosso conhecimento seria limitado, até poderíamos considerar não haver conhecimento. Para Kant, o objecto do conhecimento será aquele em cujo conceito se unifica a multiplicidade de uma intuição dada. A síntese é obra do Entendimento. Faculdade espontânea, o entendimento possui categorias ou conceitos puros que atribuem esse mesmo sentido às representações provenientes da sensibilidade. À relação entre o sujeito e a multiplicidade da intuição Kant atribui a designação de apercepção pura, afirmando a existência do «eu penso», da consciência. O conhecimento é acompanhado pela consciência. Mas, uma pergunta se mantém: como aplicar as categorias do entendimento à diversidade das intuições sensíveis?
À Imaginação é conferida um papel de mediador entre a Sensibilidade e o Entendimento. A imaginação é produtora de esquemas e um esquema é um procedimento de construção de uma imagem que delimita uma categoria. A categoria tem afinidade com o conceito, a imagem com a intuição sensível, daí que a Imaginação pertença à sensibilidade porque « a condição subjectiva é a única pela qual pode ser dada aos conceitos do entendimento uma intuição correspondente» (Kant, I, CRP, Calouste Gulbenkian, B151, p.151) . Exemplificando, o conceito de cão é uma imagem que funciona como esquema para poder ser aplicada à diversidade das sensações recebidas correspondentes ao animal. Como este exemplo pode suscitar equívocos, nada melhor do que referir o Tempo, que é um produto da imaginação porque «somos nós próprios que introduzimos, portanto, a ordem e a regularidade dos fenómenos, que chamamos natureza […] Com efeito, esta unidade da natureza deve ser uma unidade necessária, isto é, certa a priori» (CRP, A126, p.168). O Tempo está contido em toda a representação empírica e tem correspondência com cada categoria. Assim, a noção de causalidade, por exemplo, determina que uma coisa seja sucedida a outra coisa de acordo com a noção objectiva da regra de causalidade. A Imaginação está, assim, inserida entre dois campos; por um lado, o diverso da intuição, por outro a condição da unidade necessária da aperceção pura.

Sem comentários:

Enviar um comentário