David Hume afirmou a existência
de questões de facto e relações de ideias no que ao conhecimento diz respeito.
Se as relações de ideias não nos dizem nada acerca do mundo, porque são «a priori»,
já as segundas são provenientes da experiência. São «a posteriori» e o seu
princípio lógico é a indução, isto é, a repetição de um número de casos leva-nos
a supor a existência desses casos. Por exemplo, suponhamos que sou
extraterrestre e vejo vários cisnes pretos, como um dos meus processos lógicos
é a indução concluo que todos os cisnes são pretos. Estou a pensar através da
observação de casos particulares para concluir uma ideia geral. Hume
considerava este processo a única forma de produzir conhecimento, o que o levou
a supor que não possuo segurança total para afirmar que o próximo cisne será
preto. Também é normal que, através da indução, estabeleça uma relação
causa-efeito. Sempre que lanço uma pedra, a pedra cai, levando-me a concluir
que as pedras, sempre que lançadas, caem. Para Hume, esta conclusão é alcançada
através do hábito e da sucessão temporal. Mas daí não consigo afirmar com
convicção que sempre assim será, sempre que lanço uma pedra, a pedra cairá.
Popper tentou ultrapassar este
processo, porque deste modo não confiaríamos na ciência. Ora, é bom que
confiemos na ciência, caso contrário havemos de confiar em quê? Popper tentou
solucionar este impasse afirmando que, ao contrário da ideia de Hume (a prática
precede a teoria), no conhecimento a teoria precede a prática. Assim sendo,
Popper afirma que o método deve ser hipotético-dedutivo porque o importante na
ciência não é como chegamos à teoria, mas como da teoria desenvolvemos a
experiência.
Popper acrescenta uma nova fase
ao processo de Hume. Possuindo a Teoria (todos os cisnes são pretos) encetamos
a procura de factos que REFUTEM a teoria. A este procedimento, Popper designa-o
de FALSIFICACIONISMO e que é diferente do VERIFICACIONISMO.
O verificacionismo é um
procedimento do método indutivo, baseando-se na ideia de
que devemos procurar factos que comprovem a teoria. Por exemplo, tendo a teoria
de que todos os cisnes são pretos, devemos na fase experimental procurar cisnes
pretos., o que para Popper é manifestamente impossível, pois o verificacionismo exigiria conhecer todos os factos, existentes e não existentes.
O falsificacionismo é diferente.
Quando possuímos a teoria de que todos os cisnes são pretos, devemos procurar
factos que refutem a teoria, isto é, devemos procurar cisnes brancos.
Por esse motivo, Popper designa as teorias de CONJETURAS, meras hipóteses que
necessitam de ser contrariadas. Uma boa teoria científica será, portanto,
aquela que se predispõe a ser refutada. Alcança-se a OBJETIVIDADE da ciência.
Uma teoria é objectiva se puder ser refutada, se se predispuser a que se
encontre factos observáveis que refutem a teoria inicial.
Por que razão a astrologia não
pode ser científica? Quando lemos o nosso horóscopo reparamos que estão
escritos de tal forma que parece que acertam sempre. Ora, a ciência é boa caso
seja possível constatar que possa ser falsa.
António Daniel
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