A questão do «Bom Senso e do Bom Gosto» - Questão Coimbrã
- Caracterizou-se por uma guerra de folhetos e folhetins entre Antero e António Feliciano de Castilho e António Pinheiro Chagas. Com um fundo predominantemente ideológico, esta questão promoveu ventos de mudança estéticos. Possivelmente influenciado pelo palavroso romantismo piegas, o realismo começa por caracterizar-se por uma defesa pela linguagem simples. Se o realismo está presente em Eça, já Antero envereda por um transcendentalismo. É aliás este aspecto de Antero que os ultra-românticos acusam.
Os argumentos ideológicos
Os grandes aspectos da intervenção intelectual de Coimbra ficaram-se mais a dever a factores ideológicos e políticos do que por factores estéticos, a saber:
O problema da comunicação
A questão dos modelos doutrinários
As necessidades morais e intelectuais do público a que não é alheia o ruralismo e o analfabetismo imperante.
O estatuto do intelectual, dependente do poder e da pouco numerosa burguesia letrada.
A sua independência face ao público
A escolha das prioridades intelectuais
A reforma da universidade
Fundamento do espírito crítico
Reforma mental contra a burocratização do intelectual
Significado da Geração de 70
- Projecto de síntese e de mudança nacional e europeu;
- Discussão despreconceituosa, racional;
- Abertura a novas experiências estéticas;
- Regeneração total do país (económica, cultural e política); «reaportuguesamento»
Causas formais:
Geração de Coimbra contra o:
· Romantismo Piegas;
· Classicismo Retórico (verdade, Belo, Bem) – (filosofia da Regeneração);
· Descrença na possibilidade de se alcançarem as reformas sociais e políticas através das vias institucionais;
· Constatação da crescente institucionalização e burocratização do artista através da atribuição de cargos públicos[1];
Causas materiais:
· Revolução abortada das patuleias (1846-1847). Guerra civil ganha pela facção de D. Maria II (cartistas). Os cartistas tornam-se posteriormente no Partido Regenerador, tendo-se afirmado como um partido conservador que defendia a monarquia constitucional.
· O pré-industrialismo das políticas de Fontes Pereira de Melo – da política do transporte - e as reacções de D. Pedro V a este estado de pragmatismo burguês e o consequente parasitismo económico.
· A falência cultural portuguesa: a sociedade portuguesa caracterizava-se por uma imitação grotesca da cultura europeia. O tédio tornou-se um sentimento generalizado da sociedade portuguesa e invadia o espírito de tudo e de todos.
Causas intelectuais:
Face a este quadro, a descrença na transformação do país levou muitos intelectuais a vincularem-se a correntes do pensamento que se difundiam por toda a Europa.
· - Numa primeira fase, simpatia com o socialismo utópico de Saint-Simon, Fourier, Proudhom.
· - Defesa de um ponto de vista evolutivo contra a degenerescência romântica de António Feliciano Castilho.
· - Difusão das primeiras ideia republicanas (fundação do jornal A República em 1948).
· - Numa segunda fase, idealização de uma aristocracia iluminada, contraponto a um socialismo utópico. Coincide com a fase da ironia queirosiana. Este período corresponde à máxima «vencidos da vida».
Como se caracteriza?
· - Idealismo céptico. Cepticismo fin-de-siècle do pós-romantismo europeu; idealistas por que convictos do poder absoluto das ideias face ao mundo.
· - Sentido revolucionário do tempo: acto de esquecimento do passado e promoção da ideia de fim da história.
· - Movimento niilista: esquece a própria memória, negação do Estado como memória da nação, negação da igreja como negação da alma, o partido como memória de classe.
· - Renovação nos métodos da interpretação histórico – literária;
· - Germanização coimbrã como resposta à constatação de carências educativas;
· Instauração de um espírito crítico;
· - Para Antero a tragédia (futuro) é a marca, o trágico (passado) predomina em Oliveira Martins e o cómico (presente) em Eça.[2]
O que pretendiam?
· Reforma mental;
· - Corresponder às necessidades morais e intelectuais do público (revolução vintista);
· - Acertar o passo com a Europa, no sentido civilizacional;
· - Novos modelos doutrinários;
· - Independência intelectual;
· - Reformas das Universidades.
· - Repensar e pôr em questão toda a cultura portuguesa desde as suas origens, fixando-se no ponto mais elevado e também mais complexo da história de Portugal, isto é, o período das descobertas.
· - Promover activamente uma transformação profunda na ideóloga política e na estrutura social portuguesas, preparando a revolução republicana de 1910.