sexta-feira, 8 de abril de 2011

Para quê ser bem educado?

Haverá razões filosóficas para sermos bem-educados? 
Quer por razões de berço, quer por princípios (se é que as duas não estão relacionadas), gosto de pessoas educadas. Não estou a designar a educação pretensiosa que espera o troco de uma situação respeitosa, nem da sociológica necessidade da reciprocidade, mas da educação ao estilo kantiano de puro dever. Parece-me ser até um princípio universal: todos nós, sem excepção, gostamos de boa educação. Para já convém dizer o que considero boa educação. Por boa educação entendo todo o comportamento que promove um devido respeito pelo outro, isto é, corresponde à capacidade que possuímos de «olhar por cima do nosso ombro» e sabermos estar no papel do outro, respeitando-o como agente racional e não como um mero calhau.
Um calhau tem uma conotação de mero peso. Quando designamos um calhau, estamos a realçar um peso morto que se coloca no nosso percurso e que temos que contornar. Ao nível do senso comum é assim que um calhau funciona. 
De um ponto de vista geológico, um calhau não é o vulgo calhau. Um geólogo quando vê um calhau repara nos seus minerais, nas suas formas, vislumbra-o de um ponto de vista formal e respeita-o. Isto é, é educado com o calhau. É bom ser assim para com o calhau? Não será mais agradável e útil encarar o calhau na sua vulgar conotação? Da mesma forma, não será mais útil ser desagradável?
Ser desagradável inverte os termos. Ser desagradável é personificar um calhau, é sugerir que nos vejam como tal, cortando qualquer tentativa de aproximação e, até, qualquer forma de apreciação geológica. É dizer «eu sou um calhau». Vale a pena?
Possivelmente. Mas arrisca-se demasiado. Podemos ficar cristalizados nesta circunstância e aí não parece haver espaço para o outro. São comuns circunstâncias de ausência de resposta a um cumprimento ou apenas a uma omissão de um gesto do outro. É óbvio que pretendemos dizer: «sou um calhau».
Ser educado não é isso. Ser educado dá estética ao momento. Como soa bem um «obrigado» dito de uma forma que reivindica para si o reconhecimento do outro! Um «boa tarde» ou «boa noite» abre-nos a porta do «sem sentido» estético. É quase como se estivéssemos a desfrutar de uma singela obra de arte. É quase um sobre-sentido que nos alerta para a universalidade. A indiferença não é estética. Mas, atenção, tal só é possível se existir uma autenticidade, caso contrário mais vale ser calhau.


imagem retirada daqui: http://lindinhalirow.blogspot.com/

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