Pressupostos filosóficos do republicanismo[1]
O enquadramento social do positivismo
Perante os seguintes acontecimentos:
v
Contradições geradas no seio da sociedade
oitocentista pós-revolucionária.
v
Estas contradições mostraram que a realidade
social era mutável, análoga à fenomenalidade natural e, portanto, passível de
ser experimentada.
v Permanente
mudança nas relações de produção capitalista.
Fomentou-se a ideia de que as
concepções filosóficas e religiosas das sociedades pré-industriais, não
conseguiam responder aos novos tempos.
- A cidade grega encontrou
o seu fundamento numa metafísica do inteligível.
- A Idade Média
hierarquizou-se socialmente segundo uma concepção teocêntrica.
- A Idade Moderna atomizou
o indivíduo, separando-o de Deus e dos outros homens.
- A sociedade industrial,
desdivinizada, procurou explicar a realidade social através de critérios positivistas,
de modo a controlar racionalmente o destino individual e social.
Comte inscreve-se nesta
vertente conservadora. O seu propósito será o de interpretar a sociedade e, com
isso, consolidar o progresso e evitar a revolução
Ø Para
Comte, depois dos desenvolvimentos protagonizados pela Física, Biologia e
Química, seria possível ao ser humano debruçar-se sobre questões mais complexas
do Ser: os fenómenos sociais.
Ø Estes
fenómenos eram considerados complexos máximos e mínimos generalistas, segundo a
diferenciação ontológica de Comte (para Comte, a realidade hierarquizava-se de
acordo com os conceitos de generalidade e complexidade. Os menos complexos e os
mais gerais pertenceriam à Matemática e os mais complexos e menos gerais
pertencem à Sociologia).
Ø A
esta hierarquia ontológica correspondia uma hierarquia histórica e epistemológica.
A “evolução do espírito caminhava para
a plena positividade através da crescente cientificação das esferas do ser numa
ordem histórica que ia das ciências mais gerais e menos complexas para as
últimas ciências - a Sociologia.”[2]
Ø Esta
ciência apelidava-se de Física Social.
Ø Estava
assim encontrada a legitimação doutrinária da classe social dominante. O
capitalismo que pugnava era um capitalismo pós-concorrencial. Aqui, o estado
funcionaria como vigilante e interventor sobre as propriedades que não desempenhassem
uma função social produtiva.
Ø Por
isso desenvolve a noção de Estática
Social. Contrariamente à ideia metafísica de progresso a partir do
conflito, Comte desenvolve a ideia de progresso através da ordem (daí a
bandeira brasileira). Este conceito promoveu a ideia de Comte quanto às estruturas
que melhor determinam a ordem : Estado, Família Monogâmica e Patriarcal e a
Propriedade Privada.
Ø O
PODER: O exercício do poder devia ser legitimado pela capacidade científica e
industrial, devendo o poder espiritual pertencer aos portadores do saber: Os
filósofos positivistas.
Ø Este
poder seria exercido de um modo centralizado e o respectivo Estado devia ser
intervencionista e ditatorial. O indivíduo seria uma expressão abstracta, na
medida em que o social predominava. No estatuto social só a família,
inicialmente, e o Estado, depois, possuíam dignidade.
Ø Estava
assim encontrada uma forma de justificar a legitimidade do poder da grande
burguesia e de evitar as querelas entre facções e a consequente revolução.
O Positivismo de Littré
Ø Não
deu como garantida a exclusividade da sociologia na explicação do fenómeno
social. A Biologia, a par da antropologia darwinista, da Economia, da linguística
e da História, trouxe uma urgente redefinição epistemológica. Littré tenta
adequar estas novas temáticas à taxonomia positivista. Acrescente-se a
influência de Mill que resfreou a impetuosidade do estatismo comteano com a
afrimação do indivíduo, à boa maneira inglesa.
Ø Atento
à afirmação de classes intermédias, Littré procurou retirar à burguesia
abastada a hegemonia que Comte lhe havia dado. Assim criou vias para a
afirmação do republicanismo burguês contra o monarquismo, o clericalismo e o
revolucionarismo socialista.
Ø Inspirando-se
na máxima Ordem e Progresso, Littré
tentou justificar um republicanismo moderado, cujo desenlace se deu a III
república francesa em 1870[3],
adequando o positivismo às necessidades da luta contra o monarquismo, o
clericalismo e o socialismo revolucionário.
[1]Ver Fernando Catroga, «A importância do Positivismo na consolidação da
ideologia republicana em Portugal, in Biblos,
53, 1977 e «inícios do positivismo em Portugal» in Revista História das Ideias, vol.1.
[2] Fernando
Catroga, , pág. «A importância do Positivismo na consolidação da ideologia
republicana em Portugal, in Biblos,
53, 1977, pág. 12
[3] Depois
da deposição de Napoleão III e da derrota francesa na guerra franco-prussiana.
Durou até 1940.
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