Por ser mortal e temer a sua própria
morte o Homem, desde os primórdios da sua existência, questionou-se sobre o
sentido da vida. Dos antigos filósofos gregos, como Aristóteles e Platão, até
os cidadãos das sociedades atuais, como o autor deste texto, todos/procuraram
responder ao problema do sentido da vida.
Contudo, para responder, primeiro, é necessário compreendê-lo. Quando nos referimos ao
problema do sentido da vida, estamos, verdadeiramente, a referir-nos ao
seguinte conjunto de questões: “A vida possui sentido?”, “(Se sim,) qual é o
sentido da vida?”, “O sentido da vida depende da existência de Deus?”.
Como referido anteriormente, uma
vez que este problema foi/é tema de discussão de vários homens e mulheres ao
longo do tempo, surgiram inúmeras teorias com um intuito de servir como
resposta a estas questões. Entre as mais famosas estão a de Tolstói e a de Sartre.
Tolstói, não conseguindo atribuir
qualquer sentido racional aos atos realizados por si em vida, acreditava que
para a vida possuir sentido a existência de Deus é uma condição necessária.
Isto é, para Tolstói, o sentido da vida de todo Homem é a união com o Deus eterno,
o Paraíso. Apesar deste ponto de vista ser atraente, pois afirma que ao morrermos
iremos para um plano melhor, o Paraíso, a verdade é que apresenta fragilidades que
não podem ser ignoradas:
- Como a existência de Deus é
uma condição necessária para que a vida possua sentido; se Deus não existir, a
vida não possui sentido. Ora, vale a pena por todo o peso das nossas vidas num
ser que nem sabemos se existe realmente? E se Deus não existir, não seriam as
vidas de todos os que partilham o ponto de vista de Tolstói desperdiçadas?
- Agora imaginemos que Tolstói
estava certo, Deus existe e o sentido da vida humana é a união com Deus, o Paraíso.
Uma vez que ao chegarmos ao Paraíso o sentido da nossa vida já estaria completo,
não estaríamos condenados a uma eternidade sem objetivos? Além disso, como nada
se pode comparar à união do mortal com o divino, não seriam todos os
acontecimentos posteriores a esse considerados tediosos?
Analisando desta maneira, concluímos
que, se Tolstói estiver certo, como consequência de completarmos o sentido das
nossas vidas, estaremos condenados a uma eternidade tediosa e sem objetivos. Isto
não parece plausível, uma vez que tira todo o sentido de viver. Logo, não
podemos responder ao problema do sentido da vida através do ponto de vista de Tolstói.
Por outro lado, Sartre, acreditava
que o Homem está só e que este cria o sentido da própria vida. O Homem está
condenado a ser livre e deve ser responsabilizado por todas as suas ações. Uma das possíveis críticas ao ponto de vista
de Sartre é semelhante à primeira crítica apresentada contra o ponto de vista de
Tolstói:
- Sartre acreditava que Deus
não existe e isso permite ao Homem ser livre e dar sentido a sua vida. No
entanto, ainda hoje não temos a certeza de que Deus não existe; logo, não
podemos ter a certeza de que Sartre está correto.
Assumindo que Deus existe,
Sartre está errado e o Homem não está nem só, nem livre. Assumindo que Deus não
existe, Sartre pode estar correto (não podemos assumir que se Deus não
existir, Sartre está correto; pois, mesmo sem a existência de Deus, podemos não
ser livres).
Como ambas as teorias apresentadas
possuem críticas muito fortes, o ponto de vista defendido neste texto é o
Determinismo Biológico. Ou seja, o Homem é um ser semelhante a todos os outros
e o único sentido da sua vida é a sua sobrevivência. Está nos seus genes a vontade
de escapar da morte e é isso que traz sentido à sua vida.
À primeira vista, esta teoria parece
não ser plausível, uma vez que o Homem faz mais do que sobreviver e promover a
continuidade da sua espécie. Contudo, quando olhamos para todos os outros seres
vivos à nossa volta percebemos uma semelhança: Independentemente da existência
de Deus e do facto de o Homem estar sozinho ou não, qualquer ser vivo coopera, compete
ou se exclui com o intuito de aumentar as suas chances de sobreviver na
natureza. Sendo o Homem um ser vivo como todos os outros, não faz sentido
possuir um sentido de vida diferente, o Homem não é especial.
O determinismo biológico pode ser
definido através do seguinte argumento:
- Apesar de ser racional, o Homem
é um ser vivo como todos os outros.
- Todos os seres vivos
conhecidos lutam, cooperam ou se excluem como intuito de sobreviver — esse é o
sentido das suas vidas.
- Logo, sendo Homem um ser
vivo semelhante a todos os outros, o objetivo da sua vida é semelhante ao dos
outros seres vivos, sobreviver.
Concluindo, é possível afirmar que
o sentido da vida de qualquer ser vivo — incluindo o Homem — é independente da
existência de Deus e de facto de estarmos sozinhos ou não.
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