quarta-feira, 29 de junho de 2022

Textos de alunos: A vida tem sentido?

 

   Por ser mortal e temer a sua própria morte o Homem, desde os primórdios da sua existência, questionou-se sobre o sentido da vida. Dos antigos filósofos gregos, como Aristóteles e Platão, até os cidadãos das sociedades atuais, como o autor deste texto, todos/procuraram responder ao problema do sentido da vida.

   Contudo, para responder, primeiro, é necessário compreendê-lo. Quando nos referimos ao problema do sentido da vida, estamos, verdadeiramente, a referir-nos ao seguinte conjunto de questões: “A vida possui sentido?”, “(Se sim,) qual é o sentido da vida?”, “O sentido da vida depende da existência de Deus?”.

   Como referido anteriormente, uma vez que este problema foi/é tema de discussão de vários homens e mulheres ao longo do tempo, surgiram inúmeras teorias com um intuito de servir como resposta a estas questões. Entre as mais famosas estão a de Tolstói e a de Sartre.

   Tolstói, não conseguindo atribuir qualquer sentido racional aos atos realizados por si em vida, acreditava que para a vida possuir sentido a existência de Deus é uma condição necessária. Isto é, para Tolstói, o sentido da vida de todo Homem é a união com o Deus eterno, o Paraíso. Apesar deste ponto de vista ser atraente, pois afirma que ao morrermos iremos para um plano melhor, o Paraíso, a verdade é que apresenta fragilidades que não podem ser ignoradas:

       - Como a existência de Deus é uma condição necessária para que a vida possua sentido; se Deus não existir, a vida não possui sentido. Ora, vale a pena por todo o peso das nossas vidas num ser que nem sabemos se existe realmente? E se Deus não existir, não seriam as vidas de todos os que partilham o ponto de vista de Tolstói desperdiçadas?

      - Agora imaginemos que Tolstói estava certo, Deus existe e o sentido da vida humana é a união com Deus, o Paraíso. Uma vez que ao chegarmos ao Paraíso o sentido da nossa vida já estaria completo, não estaríamos condenados a uma eternidade sem objetivos? Além disso, como nada se pode comparar à união do mortal com o divino, não seriam todos os acontecimentos posteriores a esse considerados tediosos?

   Analisando desta maneira, concluímos que, se Tolstói estiver certo, como consequência de completarmos o sentido das nossas vidas, estaremos condenados a uma eternidade tediosa e sem objetivos. Isto não parece plausível, uma vez que tira todo o sentido de viver. Logo, não podemos responder ao problema do sentido da vida através do ponto de vista de Tolstói.

   Por outro lado, Sartre, acreditava que o Homem está só e que este cria o sentido da própria vida. O Homem está condenado a ser livre e deve ser responsabilizado por todas as suas ações.   Uma das possíveis críticas ao ponto de vista de Sartre é semelhante à primeira crítica apresentada contra o ponto de vista de Tolstói:

      - Sartre acreditava que Deus não existe e isso permite ao Homem ser livre e dar sentido a sua vida. No entanto, ainda hoje não temos a certeza de que Deus não existe; logo, não podemos ter a certeza de que Sartre está correto.

        Assumindo que Deus existe, Sartre está errado e o Homem não está nem só, nem livre. Assumindo que Deus não existe, Sartre pode estar correto (não podemos assumir que se Deus não existir, Sartre está correto; pois, mesmo sem a existência de Deus, podemos não ser livres).

   Como ambas as teorias apresentadas possuem críticas muito fortes, o ponto de vista defendido neste texto é o Determinismo Biológico. Ou seja, o Homem é um ser semelhante a todos os outros e o único sentido da sua vida é a sua sobrevivência. Está nos seus genes a vontade de escapar da morte e é isso que traz sentido à sua vida.

   À primeira vista, esta teoria parece não ser plausível, uma vez que o Homem faz mais do que sobreviver e promover a continuidade da sua espécie. Contudo, quando olhamos para todos os outros seres vivos à nossa volta percebemos uma semelhança: Independentemente da existência de Deus e do facto de o Homem estar sozinho ou não, qualquer ser vivo coopera, compete ou se exclui com o intuito de aumentar as suas chances de sobreviver na natureza. Sendo o Homem um ser vivo como todos os outros, não faz sentido possuir um sentido de vida diferente, o Homem não é especial.

   O determinismo biológico pode ser definido através do seguinte argumento:

       - Apesar de ser racional, o Homem é um ser vivo como todos os outros.

       - Todos os seres vivos conhecidos lutam, cooperam ou se excluem como intuito de sobreviver — esse é o sentido das suas vidas.

       - Logo, sendo Homem um ser vivo semelhante a todos os outros, o objetivo da sua vida é semelhante ao dos outros seres vivos, sobreviver.

   Concluindo, é possível afirmar que o sentido da vida de qualquer ser vivo — incluindo o Homem — é independente da existência de Deus e de facto de estarmos sozinhos ou não.

 Daniel Brito, 11.º A, Agrupamento de Escolas da Ericeira.

 

 

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