Karl Popper
Os mundos 1, 2, 3. Falsificacionismo e critério da objetividade.
Inerente à problemática mente-corpo (deslocalizando-se das perspetivas monistas ou dualistas), Popper propõe uma visão
pluralista no que toca à realidade.
Mundo 1: Objetos pertencentes ao
espaço físico: nele se inserem os objetos naturais e os objetos produzidos pelo
homem. Há objetos que pertencem simultaneamente ao mundo 1 e mundo 3. «Tudo o
que se pode pontapear e devolver o pontapé» (p. 117 O Conhecimento e o Problema Mente-Corpo)
Mundo 2: Mundo psicológico,
consciente, corresponde à subjetividade e às respetivas disposições para agir.
Mundo 3: Produtos do espírito
humano. Nele se insere a ciência, os argumentos as teorias e o erro.
Face a esta apresentação, quais as
características da realidade?
1. Visão
pluralista. Rejeição do monismo, no sentido behaviorista, fisicalista ou
material. A existência de qualquer um dos mundos não é exclusiva.
2. As teorias,
próprias do mundo 3, interagem com o mundo , basta pensar nas implicações das
produções humanas, tais como centrais nucleares, arranha-céus ou outros…
3. O mundo 2
existe porque nós temos de compreender uma teoria do mundo 3 antes de a
podermos usar do mundo 1. Compreender é uma questão mental. mutatis mutandis, o mundo 2 necessita do
mundo 1. O cérebro, uma realidade entre outras, produz pensamento. Numa frase
própria de Searle, cérebros (mundo 1) causam mentes (mundo 2).
4. A relativa
autonomia do mundo 3. Existe uma parte constituída por conteúdos de pensamento
objetivos que são independentes e claramente distintos dos processos de
pensamento subjetivos. Por exemplo, existem números naturais (1,2,3,4…) que são
inventados por nós. Mas, se pensarmos nos números pares ou primos já são formas
compreensivas, não são inventados mas descobertos por nós. Os números naturais
são inventados, mas existem consequências involuntárias desse produto do
espírito humano. Descobriu-se que quanto mais se avança na sequência dos
números naturais mais raro se torna a ocorrência de números primos. Esta é uma
propriedade autónoma do mundo 3. (pág. 121, Op.
Cit.)
5. Contudo, a
verdade ou a falsidade dos acontecimentos do mundo 3 depende do mundo 1, do
próprio padrão da realidade, garantindo-se a objetividade da construção humana.
O MUNDO 3
A ciência é uma produção do
espírito humano mas como aplicações normativas o que determina a sua autonomia.
Tal como referimos, o conhecimento objectivo pertence ao mundo 3 mas com sérias
repercussões no mundo 1 (op. Cit. P22)
Definição de ciência: «Supersimplificação sistemática da realidade, isto é, a arte de
discernir aquilo que podemos omitir com vantagem para nós.» p 59 ( Universo Aberto.). É uma realidade
própria do mundo 3 porque resulta de uma interpretação do mundo 2 sobre o mundo
3. Se procurarmos a objectividade, é no mundo 3 que a podemos encontrar. O
conhecimento objectivo possui uma vasta aplicação, vai desde registos, gráficos,
construções, hipóteses, suposições e, acima de tudo, problemas.
1. A
simplificação da descoberta científica consiste na construção de rede por forma
a «apanhar» a realidade. O progresso científico é, pois, a construção de redes
cada vez mais bem adaptadas. Essas redes são da nossa autoria, são racionais e
não são uma representação da realidade.
2. O mundo é
complexo. Ainda que por vezes as teorias revelem alguma simplicidade, não
implica a intrínseca simplicidade do mundo.
3. A função
dessa rede é encontrar problemas a partir do seguinte esquema:
P1(problema
de partida)®TE (teoria experimental)®EE(eliminação de erros)®P2 (problemas finais).
A Verdade
Popper parte da convicção da existência de verdade de forma objetiva e absoluta. No sentido de ultrapassar as tendências subjetivas da verdade (Popper, Conjeturas e Refutações) consideradas nas teorias coerentistas, na teoria da evidência e a teoria pragmática ou instrumentalista, Popper atribui a Tarski uma importância fundamental na definição da verdade. Efetivamente, o lógico polaco coloca a tónica da verdade na estrutura lógica de uma bicondicional: «o mar é líquido» se, e só se, o mar for líquido Assim, a verdade deve ser definida relativamente a uma determinada linguagem e estar de acordo com a condição da não-criatividade (não se pode obter novos teoremas por consequência da definição) e da eliminabilidade (a qualquer momento o definido pode ser substituído pela definição). São estas as condições - e não os critérios - para que uma sentença seja verdadeira. Popper conclui daqui que a verdade existe apesar de não sabermos se algo é verdadeiro. O trabalho do cientista assemelha-se muito a um alpinista (Popper, op.cit), apesar de saber que a verdade está no cume e que para lá caminha, o seu trabalho consiste em encontrar obstáculos passíveis de serem contornados. Aquilo que alcança são verosimilhanças.
Inerente à problemática mente-corpo (deslocalizando-se das perspetivas monistas ou dualistas), Popper propõe uma visão
pluralista no que toca à realidade.
1. Visão
pluralista. Rejeição do monismo, no sentido behaviorista, fisicalista ou
material. A existência de qualquer um dos mundos não é exclusiva.
2. As teorias,
próprias do mundo 3, interagem com o mundo , basta pensar nas implicações das
produções humanas, tais como centrais nucleares, arranha-céus ou outros…
3. O mundo 2
existe porque nós temos de compreender uma teoria do mundo 3 antes de a
podermos usar do mundo 1. Compreender é uma questão mental. mutatis mutandis, o mundo 2 necessita do
mundo 1. O cérebro, uma realidade entre outras, produz pensamento. Numa frase
própria de Searle, cérebros (mundo 1) causam mentes (mundo 2).
4. A relativa
autonomia do mundo 3. Existe uma parte constituída por conteúdos de pensamento
objetivos que são independentes e claramente distintos dos processos de
pensamento subjetivos. Por exemplo, existem números naturais (1,2,3,4…) que são
inventados por nós. Mas, se pensarmos nos números pares ou primos já são formas
compreensivas, não são inventados mas descobertos por nós. Os números naturais
são inventados, mas existem consequências involuntárias desse produto do
espírito humano. Descobriu-se que quanto mais se avança na sequência dos
números naturais mais raro se torna a ocorrência de números primos. Esta é uma
propriedade autónoma do mundo 3. (pág. 121, Op.
Cit.)
5. Contudo, a
verdade ou a falsidade dos acontecimentos do mundo 3 depende do mundo 1, do
próprio padrão da realidade, garantindo-se a objetividade da construção humana.
1. A
simplificação da descoberta científica consiste na construção de rede por forma
a «apanhar» a realidade. O progresso científico é, pois, a construção de redes
cada vez mais bem adaptadas. Essas redes são da nossa autoria, são racionais e
não são uma representação da realidade.
2. O mundo é
complexo. Ainda que por vezes as teorias revelem alguma simplicidade, não
implica a intrínseca simplicidade do mundo.
3. A função
dessa rede é encontrar problemas a partir do seguinte esquema:
A Verdade
Popper parte da convicção da existência de verdade de forma objetiva e absoluta. No sentido de ultrapassar as tendências subjetivas da verdade (Popper, Conjeturas e Refutações) consideradas nas teorias coerentistas, na teoria da evidência e a teoria pragmática ou instrumentalista, Popper atribui a Tarski uma importância fundamental na definição da verdade. Efetivamente, o lógico polaco coloca a tónica da verdade na estrutura lógica de uma bicondicional: «o mar é líquido» se, e só se, o mar for líquido Assim, a verdade deve ser definida relativamente a uma determinada linguagem e estar de acordo com a condição da não-criatividade (não se pode obter novos teoremas por consequência da definição) e da eliminabilidade (a qualquer momento o definido pode ser substituído pela definição). São estas as condições - e não os critérios - para que uma sentença seja verdadeira. Popper conclui daqui que a verdade existe apesar de não sabermos se algo é verdadeiro. O trabalho do cientista assemelha-se muito a um alpinista (Popper, op.cit), apesar de saber que a verdade está no cume e que para lá caminha, o seu trabalho consiste em encontrar obstáculos passíveis de serem contornados. Aquilo que alcança são verosimilhanças.
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