O conhecimento filosófico
Quando pretendemos escrever sobre um qualquer assunto é
conveniente definir muito bem os termos com que faremos o nosso texto.
Conhecimento pode ser definido como uma crença, entendida
como algo em que nós acreditamos; verdadeira, porque tem que corresponder à
realidade e, obviamente, justificada. Não vale dizermos seja o que for sem
saber justificar o que foi dito. Nesta medida, o conhecimento refere-se sempre
a algo e visa compreendê-lo. Para tal faz-se um esforço para organizar as
ideias, no sentido de lhes fornecer uma ordem. Quando nos deparamos com uma
situação nova, somos levados a procurar uma ideia, um sentido àquilo para me
sentir mais seguro. Só que, por vezes, a realidade não é assim tão fácil. Há
assuntos que merecem mais a nossa atenção do que outros; assim como há assuntos
que são mais facilmente resolúveis por determinadas ciências. Um cientista
procura, através de um método e instrumentos próprios, conhecer a realidade,
dando-lhe um certo significado. Por isso, cria fórmulas químicas, modelos
matemáticos, classificações de plantas e animais… Atenção, não quer isto dizer
que a filosofia não necessita da ciência. Aliás, é imprescindível o recurso à
ciência para fazer filosofia.
Vamos fazer a ligação com a filosofia
A filosofia não envereda por estes caminhos. Os seus
recursos técnicos não são idênticos às ditas ciências naturais. Na filosofia
não se usam microscópios (embora, por vezes, seja necessário um olhar de
lince), muito menos provetas. Na filosofia recorre-se à argumentação. O
raciocínio é uma predisposição que possuímos que nos leva a pensar
sistematicamente com o objetivo de qualquer pessoa reconhecer como correto. A
razão é, deste modo, um recurso importante porque nos propõe utilizar um método
que seja imune ao individual e social. A lógica tem aqui um papel
preponderante.
Agora uma ligação com os argumentos
A correção dos nossos argumentos é uma exigência social. Daí
que a filosofia recorra de forma assídua à lógica. Esta mostra-nos quando um
argumento é ou não válido, tem ou não sentido, o que não impede que façamos as
devidas correções às premissas que sustentam a conclusão. Isso mesmo, um
argumento é um encadeamento de ideias em que a última é sempre expressão das
anteriores.
Não parece muito viável que executamos qualquer ponto de
vista a partir de uma forma desconexa, pois não permitiria que a racionalidade
do outro fosse respeitada. Também ninguém quereria ficar nesta situação porque
todos nós temos um conjunto de teses sobre a realidade que gostamos de
partilhar. As teses não são mais do que ideias que formulamos acerca dos
problemas; proposições, verdadeiras ou falsas, sobre os mais variados assuntos.
Mas sejamos sérios. Estas ideias não se podem ficar por meras opiniões, elas
devem ser sustentadas por argumentos que enalteçam a clareza e a racionalidade.
Os problemas da vida assim o exigem.
(aproveito para falar de problemas).
Problemas há muitos. É comum identificarmos um problema com
uma situação que apela à nossa intervenção e compreensão, no sentido de ser
clarificado para nosso benefício. Mas atenção, a filosofia não se debruça sobre
o problema, por exemplo, da transmissão de certas doenças; os problemas da
filosofia correspondem às designadas crenças básicas, crenças que servem de
apoio a todas as outras. Se estou a tentar conhecer algo é porque resolvi uma
questão que lhe serve de referência: o que é o conhecimento? Da mesma forma, se
for crente é porque confio na crença básica do crente: Deus existe (apesar de em Filosofia o encontro com Deus seja racional). Se ouço uma
música e dela usufruir, encontro-me em condições de descrever uma crença
básica: o que é arte? Quando me dirijo a uma urna no sentido de votar, encontro
neste ato uma pergunta básica: o que é a política? Numa situação de
comportamento moral sei, ou devia saber, responder à pergunta: o que é o bem? O
que é o mal?
António Daniel
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