quarta-feira, 20 de junho de 2012
segunda-feira, 4 de junho de 2012
O Sentido da Existência II
§ Aqueles para quem a
existência não tem qualquer sentido.
Encontram-se dois filósofos
que se enquadram nesta perspectiva: os franceses J.P. Sartre e Albert Camus.
Vamos começar por este
último. O texto entregue pelo vosso professor é retirado do livro O Mito de Sísifo. Sísifo é para Camus o
protótipo de existência, na medida em que revela o absurdo que a caracteriza.
Sísifo foi um gigante condenado pelos deuses a empurrar eternamente até ao topo
de uma montanha uma pedra que cai sem cessar mal é colocada lá no cimo. É uma
situação absurda, esta do gigante! Transporta a pedra sabendo que vai
imediatamente cair depois do esforço desempenhado. Para Camus, o homem é como o
gigante, desenvolve um trabalho inútil e sem esperança. Contudo, nem tudo é
negativo. Sem qualquer tipo de constrangimento, o gigante, tal como o homem,
está entregue a si mesmo, nada o ultrapassa, está vinculado ao seu próprio
esforço. Para Sísifo, como para a humanidade, tudo está bem. O Homem absurdo
diz sim e o seu esforço nunca mais cessará, ele sabe-se senhor dos seus dias.
Nada existe que o suplante e o negue, nada há que o transcenda. Aquando da sua
condenação pelos deuses, obviamente que Sísifo sentia o enclausuramento, porém,
à medida que a sua eterna tarefa prosseguia, Sísifo foi tomando consciência que
estava só, entregue a si mesmo, sem qualquer tipo de acção divina. Sentia-se livre.
Talvez seja esta a especial e única predilecção humana: ser feliz com o seu
próprio esforço.
- Deveis estar assim a pensar: Estes indivíduos não tinham mais nada
para fazer?
J.P. Sartre, filósofo francês, viveu numa época que tornava urgente uma reflexão
acerca do homem. Após a Segunda Guerra Mundial, que devastou o mundo, muitas
perguntas se fizeram quanto ao sentido da existência. Obviamente que, enquanto
há prosperidade económica as pessoas nem sequer têm tempo de pensar nelas
próprias, mas, quando o Homem se depara com situações de destruição e crise,
tem necessidade de se questionar.
Na linha de Camus, Sartre
diz: a existência precede a essência.
Esta asserção sintetiza de forma evidente toda a filosofia de Sartre.
Basicamente, esta frase evidencia que nada predestina o Homem. É ele que se faz
a si próprio. Este modo de se fazer possui, porém, aspectos relevantes. Fazer
significa existir. Mas como devemos existir? Existimos como um «eu» se optar,
construir, desejar, escolher, demonstrar vontade. Ou seja, o homem só tem uma maneira
de existir, é fazendo-se. Na medida em que ele não está já feito, a sua
essência, aquilo que ele é, consiste numa permanente construção contínua desse
«eu» no sentido de construir a sua própria liberdade.
Sem Deus, com o homem
entregue a si próprio, ele está condenado a ser livre. Torna-se inevitável ao
homem exercer a liberdade, tornando-se ele próprio dono das suas decisões e
opções e, por isso, o único responsável por tudo aquilo que faz. O homem não
encontra fora de si algo a que se possa apoiar, como muleta das suas
desventuras. Não! O homem encontra-se a si próprio, está abandonado, para o bem
e para o mal. É por este motivo que todas as pessoas reclamam pela liberdade,
mas nem toda a gente sabe exercê-la.
§ Aqueles para quem a
existência tem um sentido.
É comum conotar uma parte da
filosofia existencialista com uma vertente cristã. Efectivamente existem
filósofos como Kierkegaard, Mounier, Gabriel Marcel, que introduzem na questão
da existência a presença de algo que transcende o Homem. A vertente espiritual
do homem é predominante na análise que estes filósofos fazem acerca do sentido
da vida. O conceito de pessoa, como entidade espiritual, liga-se a uma
mundividência (uma visão do mundo) que não abdica de uma entidade supra-individual
(que ultrapassa o indivíduo). Assim sendo, a pessoa realiza-se e encontra o seu
sentido quando age e caminha em direcção à sua realização espiritual e, por
consequência, segue os caminhos trilhados por essa entidade divina. Num texto
que Kierkegaard escreveu mostra-se
como a vida do homem deverá ser. Assim, retrata a vida de Abraão como exemplo
da realização plena do homem. Sabem que Abraão era um profeta que esteve,
segundo relatos bíblicos, perante Deus. Este, para avaliar a sua fé, exige que
Abraão mate o filho. Perante este aparente absurdo, este incomensurável
desequilíbrio emocional, este paradoxo, como a sua fé era grande, Abraão pegou
logo no filho para executar a ordem. Eis senão, Deus, perante aquele desempenho
religioso, ordenou que parasse. Esta história serve para Kierkegaard
exemplificar em que consiste a existência autêntica do Homem e a sua verdadeira
realização como ser predominantemente espiritual.
Este patamar da vida do
Homem diferencia-se daquelas formas existenciais que se caracterizam por querer
gozar a vida somente através do prazer corporal (comer bem, dormir bem, entre
outras coisas). A estes Kierkegaard situa-os num estádio existencial estético.
Além destes, existe outro estádio apelidado de ético. Apesar deste se
caracterizar por uma vertente moral (fazer o bem ao próximo, não abusar das
pessoas, etc), nunca se assemelha à qualidade existencial do estádio religioso,
descrito anteriormente[1].
§ Aqueles para quem é o
próprio ser humano que constrói o sentido da sua existência.
Alguns pensadores, não
acreditando em algum plano divino que forneça sentido à vida, depositam no
próprio homem as suas esperanças. K. Marx e Nietzsche, dois filósofos alemães
do séc. XIX, protagonizaram esta vertente existencial. Para Nietzsche, o homem,
com a morte de Deus, encontrou-se consigo mesmo realizando a sua própria
essência através das criações. Por este motivo, todo o homem deveria
construir-se como super-homem (não estou a brincar, a expressão é mesmo de
Nietzsche), abdicando de qualquer cultura de rebanho em que as ovelhas
seguem o pastor como se fossem meros
servis. Este novo alento dado ao Homem desencadeou uma recuperação do valor
dado ao poder de transformar, ao poder de cria. Assim, o sentido da vida
encontra o seu relevo no próprio homem e na capacidade que ele possui de
realização.
Outras teorias filosóficas
florescem neste meio. É o caso das utopias difundidas acerca da construção de
uma espécie de paraíso na Terra, como é exemplo o Comunismo. Não entrando em
divagações, poderemos dizer que também estes filósofos realçam o poder do
Homem, demonstrando uma confiança nas suas capacidades. Este optimismo é fruto
da perspectiva que considera o Homem como fazedor da realidade e da história, e
cuja construção leva a uma progressiva melhoria da situação existencial, na
medida em que se criam sistemas cada vez mais perfeitos de justiça, liberdade e
solidariedade. Em suma, estas tendências filosóficas pretendem que o Homem reassuma
o seu lugar no cosmos, assumindo a sua insignificância e a sua fragilidade e,
por isso, a tomada de consciência acerca das suas próprias possibilidades. A
noção do desenvolvimento só provém do facto do Homem ser perfeitamente frágil e
imperfeito.
sexta-feira, 1 de junho de 2012
O sentido da existência I
O sentido da existência
Esta matéria, como já devem
ter reparado, é um pouco chata. Tal facto fica-se a dever à necessidade que
vós, e todas as pessoas, tendes de pensar em coisas bem mais interessantes,
como serve de exemplo saborear um belo gelado! É só um exemplo.
Efectivamente, questões como
para onde vou?, O que me espera?, O que é
o Homem?, qual o sentido da minha existência?, Porque estudo? Para que nos serve o que estudámos? são problemáticas
que, felizmente, ainda não se encontram nas vossas reais preocupações e
preferências.
Contudo, existem filósofos
que pensam sobre estas coisas, muitos deles com aspectos interessantes, outros
nem por isso. Vamos dar, então, início ao nosso caminho pelas problemáticas
existencialistas.
Na história da filosofia existem
várias posições acerca do presente tema. Fazendo um breve síntese, poderemos
dizer que as tendências filosóficas que se debruçaram sobre o sentido da
existência dividem-se em duas grandes orientações:
As que negam
um sentido para a existência
|
As que
admitem um sentido para a existência
|
Negam a existência de qualquer tipo de
transcendência (algo de ultrapassa cada indivíduo, que o comanda e para o
qual tende) ou mesmo de racionalidade para a existência. O ser humano é
apenas um animal, aparentemente mais evoluído que os restantes que habitam o
planeta, constantemente envolvido nas lutas de poder que constituem a luta
pela sobrevivência, uma espécie que, devido aos acasos das mutações
genéticas, às transformações planetárias e à sua própria acção, está fazendo
um percurso no tempo e que perecerá (desaparecerá) quando a fonte de energia
do nosso sistema planetário (o sol) se extinguir, tal como se extingue a vida
de cada um dos indivíduos. A existência é, por isso, um absurdo sem qualquer
espécie de sentido.
|
a)
Aceitam uma transcendência divina e concebem os seres humanos como
criaturas de Deus, dotados de uma essência ou alma divina que os diferencia
radicalmente dos restantes seres vivos. Embora a vida individual se extinga
com a morte, admitem que não termina aí a sua aventura pois, sendo a alma
imortal, continuará a existir após a morte. Acreditam numa vida espiritual
antes e depois da morte biológica. É o caso das religiões.
b)
Embora não admitam uma transcendência divina, admitem que há uma
racionalidade na História (é o caso do comunismo e marxismo). Os actos
humanos, nomeadamente as formas económicas, revelam um sentido da história
humana, quer realizando um ideal inerente à actividade humana (ausência de
classes sociais para o comunismo), quer um realizando um ideal hedonista, de
prazer e consumo (como o capitalismo). Também podem aparecer ideais de paz e
harmonia.
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