Luísa sobe, Luísa é nova, |
Passam magalas, Na manhã débil, |
corre açodada, António Gedeão |
O problema da definição de uma obra de arte obriga-nos a apresentar as condições necessárias e suficientes para um objeto ser considerado arte. Neste sentido, vamos procurar enquadrar o atual poema em teorias definidoras de arte, como é o caso da teoria representativa. O nosso intuito é mostrar como esta definição pode ser adotada por se aplicar a muitos casos de objetos artísticos, apesar de não se esgotar neles nem estes se esgotarem nesta definição. Será este poema representativo de algo? A teoria da representação considera um objeto como arte se representar um signo, possuindo um significado e significante. Qualquer objeto é linguagem, mas a arte é uma linguagem muito particular. O objeto artístico tem uma natureza singular porque, no seu modo de estar aí, na sua presença factual, na sua matéria que lhe é própria, vai para além de si mesma porque introduz uma ideia que se quer universal. No poema de Gedeão está a mulher que por acaso se chama Luísa. Luísa é um nome comum, como comum são todas as «Luísas», poderá até ser um nome muito comum. Esta normalidade do nome chama a atenção para a normalidade da situação. A mulher objeto, ciente da sua presença e do seu poder, aglomera no seu universo a singela presença de um poder que move o mundo. Ela é simplesmente desprezada pela presença, o seu «eu» desaparece nas suas «coxas apalpadas», torna-se objeto de olhares e abusos. Ela sabe-o, mas continua na sua permanente repetição de estados «sobe, sobe, sobe». O ritmo é dela, sobe e desce para «dar a mamada» porque ama. Por isso, a Luísa não se importa. Mas sabe o que mais importa: dar sem receber.